sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sabor de Natal

Neste Natal resolvi inovar. Ou melhor, relembrar as origens. Há muito tempo estava querendo fazer a iguaria que sempre esteve presente nas ceias dos natais da familia: as cuquinhas de mel. Elas tradicionalmente fizeram parte do cardápio natalino, passando de geração a geração. Trata-se de umas bolachas bem macias, cobertas com glacê e com confeitos coloridos, muito consumidas no Sul do País.


Passei minha infância sentindo o cheiro dessas delícias, enquanto eram assadas no formo, exalando o aroma de cravo, canela e mel. E quando ficavam prontas, corria para saboreá-las, deixando cada pedacinho dissolver-se lentamente na boca. Mesmo depois de adulta continuei esperando ansiosamente os Natais com seu sabor de cuca de mel. Costume que meu marido e meus filhos também aprenderam a apreciar quando visitávamos a casa de meus pais.


Mas como preservar a tradição? Até agora só havia me preocupado em saborear essas delícias, sem nunca ter observado minha mãe prepará-las para conhecer seus segredos que fizeram a tradição. Ao refletir sobre o significado que as cuquinhas tinham na vida familiar, também pensei no carinho, amor e dedicação de minha mãe em ir, às vésperas do Natal, para cozinha, doar-se, através do calor do fogão e em meio a outras obrigações. Natal é isso: doação, carinho, participação, onde cada um dá um pouco de si mesmo para que a festa aconteça.

Deixei escapar esse momento de doação, pois nunca estive na cozinha para observá-la a fazer seus afazeres culinários com afinco. Hoje renovo seu amor e lamento não ter recebido dela, diretamente, as ferramentas necessárias para que a mesa continuasse a ter as cuquinhas com sabor de Natal.  

Para reviver tudo isso, o jeito foi recorrer à minha sobrinha Raquel, a única da família que se preocupou em aprender a sua arte e, assim, poder anotar a receita.


Prontamente, ela enviou-me a receita por e-mail, escrita ainda com a letra de minha mãe. Emocionada, fiz a lista de ingredientes e corri ao supermercado para comprá-los, acreditando nas dificuldades de encontrá-los. Mas retornei para casa com todos os ítens na sacola.

Ao chegar em casa, arregacei as mangas e coloquei a mão na massa.


Misturei todos os ingredientes com cuidado, procurando adicionar um a um, segundo as quantidades indicadas por minha mãe. "Será que vai dar certo?", perguntava-me, meio insegura. Deixei a massa descansar até o dia seguinte, conforme o recomendado, enquanto minha ansiedade só aumentava.


De manhã cedo, acrescentei o restante da farinha, formei as cuquinhas e fiz o glacê. Ah, o glacê. Não conseguia dar o ponto. Coloquei mais açúcar... mexi... mais açúcar. Acho que deu. Forno quente por dez minutos. Ficou pronto. O cheiro de minha infância tomou conta da cozinha. Retirei as formas do forno e, surpresa, o glacê estava todo escorrido. A decepção tomou conta de mim.


Chamei meu marido para provar."O sabor e a textura estão iguais", disse-me ele, tentando consolar-me. Não fiquei muito convencida, mas guardei tudo em vidros fechados para comermos às vésperas de Natal, em família, como é o costume.


No momento em que escrevo este texto, parei por um instante e fui até a cozinha. Minha surpresa ao constatar que um dos  vidros, contendo as cuquinhas, já estava pela metade. Bom sinal!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Muitas bênçãos neste Natal

Que este Natal seja pleno de luz e bênçãos para toda a humanidade. Que cessem as guerras., os rancores, as mágoas e os aborrecimentos. Que se fortaleçam em nós o amor e o perdão; o sorriso e o aperto de mão. Deixemos que a luz  do Cristo ilumine e guie nossos passos nesta maravilhosa caminhada do existir.

Este quadro pintei inspirada em uma figura que vi na internet e que me emocionou pela clareza da sua  mensagem.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Vitória, meu lugar...

Vitória, Cidade Sol, Cidade Presépio, Ilha do Mel...
Vitória...meu lugar...

A partir desta data, a cidade de Vitória, Espírito Santo, passa a contar com mais um local de recreação e de práticas esportivas: o Centro Esportivo Tancredo de Almeida Neves, uma extensa área, localizada na parte sul da Ilha, junto ao Terminal Rodoviário e de um parque com extensas áreas livres para o lazer.

Como parte das comemorações de abertura foi inaugurada uma exposição de pintura e de artesanato, da qual participam Centros de Convivências da Terceira Idade da Capital, tendo como tema Vitória, o meu lugar.

Os quadros de minha turma de pintura foram concluídos em tempo de atendermos o calendário original, mas as obras atrasaram por diversas vezes, aumentando nossas expectativas.  Era um tal de embala e desembala os quadros, leva para casa, traz de volta, guarda tudo novamente. Mal acreditamos quando foi definitivamente oficializada a data para a entrega do local à população e, consequentemente, a inauguração de um espaço de artes naquelas instalações.

Comparecer à abertura da Exposição foi a concretização de uma bem alimentada aspiração. A seguir mostro algumas telas que minha turma preparou, sob a coordenação de nossa instrutora, a artista plástica Ana Néri, para esse evento. Espero que você, que me lê, goste do resultado.


Cocos em Camburi - Zuleica Passos


                                                Uma Rua em Jardim da Penha - Célia Maria

                                                     Terceira Ponte - Nilda Coelho

                                                              
Irene Martins


                                                Ilha das Caieiras - Maria Nazaré T. Quintela

                                                            O Carangueijo - Ruth Pretti

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Paneleiras - Eliane Maria
Ana Heléa Baião


                                          Barco na Ilha do Frade - Décio Etienne Dessaune


                                                                   Aidini Schaquette

                                                           Maria Nazaré T. Quintela

                                                          Ilha do Frade - Maria Freire de Assis

                                                    Moqueca e Torta Capixaba - Ana Heléia

Baía de Vitória - Oscar Lopes Loureiro
                                                   Praia do Canto - Zuleica Passos Gomes

                                                     Igreja do Rosário - Saavedra Valentim


                                          Pescadores na Ilha das  Caieras - Tereza Tozzi Arçari


Artes no Parque


Conhecido popularmente como Tancredão, o Parque Tancredo de Almeida Neves conta agora com um moderno Centro Esportivo. Os atos de inauguração das novas instalações atraíram um bom público, oriundo dos bairros adjacentes, em sua maioria.

A programação de inauguração incluía apresentação de grupos de capoeira, ginástica rítmica, jogos de futebol, entre eles a competição de futebol de areia, entre as seleções do Espírito Santo e do Uruguai, além de shows programados para o dia todo. 

Muitos autores de telas e de trabalhos artesanais estiveram presentes à inauguração da Exposição "Vitória, meu lugar", assim como instrutores, amigos e simpatizantes, que foram apreciar cenas de Vitória, retratados em tela, enaltecendo as belezas naturais desta terra.


























quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Gosto pela leitura


“... não é o leitor que descobre o seu poeta, mas o poeta que descobre o seu leitor.” Mário Quintana


Desde pequena sempre gostei de livros. Vivi em uma casa onde se respirava livros. Meu pai era um leitor contumaz e, minha mãe, professora, sempre buscava nos livros idéias para suas aulas. Então, não foi difícil seguir a tradição. Por isso, quando meus filhos eram pequenos, meu marido e eu sempre procuramos levá-los a ingressar no mundo da leitura, seja comprando-lhes livros de acordo com seu desenvolvimento, seja contando-lhes histórias e estórias. Enfim, plantamos as sementes, cultivá-las é com eles.

Os livros são um verdadeiro fascínio para mim. Gosto de estar na presença de um deles, mesmo que seja para folheá-lo simplesmente ou para sentir o cheiro de papel misturado com a tinta. Sempre quis desvendar seus segredos. Ao lê-los viajei por mundos antes desconhecidos e penetrei no âmago de inúmeros personagens que realmente viveram ou que apenas foram frutos da imaginação dos autores. 

Atualmente, gosto de vasculhar pela internet, procurar novidades e inteirar-me dos fatos que acontecem pelo mundo. Porém, apesar de todas as novidades tecnológicas, ainda cultivo o hábito de sentir entre os dedos a textura do papel. E também é por isso que aprecio ler o jornal diariamente enquanto tomo o café da manhã ou depois do almoço, recostada nas almofadas. Esse hábito, diga-se de passagem, adquiri depois que comecei a fazer parte da empresa “estão de bem com a vida”, os aposentados.

Não acho graça em ler um livro, por exemplo, no formato digital. Falta a intimidade. Parar entre um parágrafo e outro, refletir sobre o que está ali diante dos olhos.  Virar as páginas com lentidão ou rapidamente para desvendar as surpresas que as páginas seguintes reservam. 


Como é prazeroso saborear, linha por linha, para fazer render o máximo possível e desfrutar do final que o autor nos apresenta , quer estejamos de acordo ou não.

Gosto de livrarias. Não vou a um shopping sem dar uma passadinha em uma delas. Delicio-me em percorrer as prateleiras, demorando-me nas sessões, para repassar títulos, resumos, ilustrações e fotos. Olho tudo. Desde os lançamentos infantis até os de meus autores preferidos.
Dizem os estudiosos que ler é acima de tudo compreender. Nada de leitura dinâmica. Não basta simplesmente passar os olhos. Devemos estabelecer empatias com os conteúdos, que eles retratam, onde o nosso papel de leitor é levar para dentro dele toda a nossa vivência pessoal, emoções, expectativas, crenças. É assim que conseguimos ser tocados pela leitura. Como disse Paulo Freire, é preciso que a leitura seja um ato de amor.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Vida & Morte

“... pois, o que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?

Neste dia de Finados veio-me à mente essa frase de Gibran Kalil Gibran. Posso imaginar a liberdade que sente aquele que se desprende da matéria e integra-se plenamente ao Todo. Para mim a morte é isso. É o encontro com o infinito.

Não pretendo aqui escrever sobre coisas tristes e nem chorar por aqueles que se foram. Pelo contrário, vou festejar a vida. Vou festejar a vida daqueles que já partiram e nos deixaram lembranças e exemplos que guardamos no coração.

Prefiro seguir na contramão dos costumes do Ocidente e caminhar para um sentido mais abrangente, assim como os orientais, que acreditam ser a morte algo natural. Pois, como diz Gibran, a vida e a morte são uma e mesma coisa. Assim como o rio e o mar são uma e a mesma coisa.

Minhas lembranças de infância guardam este contraste. Naqueles tempos, não se podia ouvir música, pois o dois de novembro era um dia reservado ao recolhimento. As rádios tocavam somente músicas sacras ou clássicas. Ficava no ar uma tristeza inexplicável. Nós, crianças, não podíamos fazer gritarias nas brincadeiras. Tudo isso em respeito aos mortos. O dia parecia mais pesado. Até hoje nunca entendi aquilo direito.

Mas hoje tudo mudou e este dia, para muitos, passou a ser só mais um, mas um especial por ser feriado, onde se pode aproveitar a praia, beber uma cerveja com os amigos ou ficar em uma roda de samba curtindo a batucada. Para outros viver esse dia é seguir a tradição, e chorar os seus falecidos ou esperar a sua vez. É dia de levar flores ao cemitério ou mandar rezar uma missa.

Nem uma coisa nem outra.

Afinal, morremos e nascemos a cada dia. E assim vamos percorrendo ciclos, superando etapas, constituindo e desfazendo relacionamentos, alimentando sonhos e confrontando realidades, revendo atitudes, aperfeiçoando maneiras de operar no mundo, sempre em busca de superarmos nossos limites. Ciclos e etapas.

A vida pode ser comparada a um contínuo desfilar de mortes. Começa pela partida do bebê deixando o aconchego do útero materno para enfrentar a realidade da existência física. A infância deve morrer e dar lugar à adolescência. A juventude, embora com esforço para mantê-la com exercícios, medicamentos, cosméticos ou cirurgias, um dia terá de morrer dando lugar à maturidade da meia idade. E, em seu prolongamento, o grand finale indicando que é hora de voltar para onde viemos. Para onde? Entre o mito e a realidade, haveremos de fixar os momentos infinitos sempre no presente, para, enquanto estivermos aqui, termos consciência da totalidade.

E, parafraseando Gibran, podemos dizer que, se quisermos conhecer o segredo da morte, só podemos descobri-lo se o procurarmos no coração da vida.

sábado, 8 de outubro de 2011

Coqueiro Verde

Em frente ao coqueiro verde, esperei uma eternidade...”

Maiô verde, touca enfeitada com apliques de folhas, na cor verde limão,um óculos que encobria boa parte do rosto, no formato arredondado, em tons de verde e, para compor, um tamanco com salto anabela, altíssimo e... da cor verde. Sacola verde para carregar os apetrechos de praia. Era, assim, toda paramentada, que ela caminhava, devagar e sorridente, em direção ao mar carioca.

Em minha adolescência, minha irmã e eu, quando a avistávamos chegando próximo aos banhistas, íamos logo dizendo, entre risos: “Lá vem o coqueiro verde!”.

E essa é a imagem que permanece, até hoje, gravada em minha mente e que me vêm à lembrança todas as vezes que escuto a música “Coqueiro Verde”, de Erasmo Carlos. A cor verde representa a natureza, nos convida a nos conectarmos com os demais. E porque não associa-la àquele peculiar modo de ir à praia, nada discreto ou despercebido, escolhido por minha tia.

Minha tia afirmava que escolhera esta cor como preferida para combinar com o verde dos seus olhos. Depois, na meia idade, chamava atenção, por onde passava, por ser considerada, digamos, um tanto extravagante na maneira de se vestir. Ela sempre seguia o seu caminho de forma altiva, por se achar linda. Não se importava com a opinião alheia, quer fosse essa favorável ou jocosa.

O dinheiro que recebia de uma pensão, deixada por seu irmão militar, falecido aos 22 anos, era bem economizado e guardado, lhe possibilitando, de vez em quando, passar uma temporada no Rio de Janeiro, cidade que ela amava, principalmente por dividir o seu tempo entre a praia e as ruas de Copacabana.

Às vezes, eu e minha irmã, em nossas férias, íamos com ela. Ríamos muito durante a viagem de ônibus de vinte e tantas horas de Porto Alegre ao Rio. Ela levava galinha com farofa e, nós, adolescentes, morríamos de vergonha de comer no ônibus. Mas quando a fome batia, esquecíamos as inibições e caíamos na comilança e na gargalhada.

Pele clara, grandes olhos arredondados, era tremendamente vaidosa. Os de sua geração sempre enalteceram a sua beleza e contavam que, quando ela passava pelas ruas nunca deixava de atrair a atenção dos transeuntes.

Quando jovem, teve uma desilusão muito forte com um namorado do qual era muito apaixonada e nunca mais quis saber de relacionamentos amorosos. Optou por não casar. Sempre morou com os irmãos e sobrinhos. “Conhecimento eu tenho, o que me falta é prática”, dizia sorridente.

Mas nem sempre as relações eram amistosas, porque, ao receber de sua mãe, minha avó, muito mimo, exibia, em conseqüência, uma certa soberba e tornava-se, às vezes, meio inconveniente. Isso causava atritos.

Gostava muito de cozinhar. Preparava saborosos pratos e, sempre, ao colocá-los à mesa, dizia como uma sentença habitual ou rotineira: “A mamãe me ensinou”. Sua especialidade era a salada de maionese, preparada aos domingos para acompanhar o tradicional churrasco. Para adornar, salpicava o prato com salsinha picada, para dar um toque ...verde.

Sempre foi alegre e conversadeira, falava bem alto. Os mais velhos também contavam que, quando jovem, ela cantava no coral da igreja. No casamento de meus pais, cantou a Ave Maria, enaltecida por sua bela voz, conforme relataram os presentes.

Tinha uma saúde de ferro, apesar de fumar muito. Nunca consultava médicos. Dizia que se fosse ao médico, ele iria inventar alguma doença. Tratava gripe, dor de garganta, febre, verruga, calo, dor de cabeça e o que mais aparecesse, com Melhoral e Vickvaporub.

Uma vez, já com uma certa idade, quando estava indo à padaria, foi assaltada na rua perto de casa. O ladrão jogou-a no chão, mas não conseguiu roubar sua corrente e o medalhão de ouro que trazia no pescoço. Ela segurara com firmeza a jóia nas mãos e gritara tanto que o larápio saiu correndo.

Aos noventa anos caiu ao levantar da cama e fraturou o fêmur. Acredito que a osteoporose estava tomando conta. Depois disso, nunca mais se recuperou, foi enfraquecendo até falecer, em 1998, aos 92 anos.

Essa controvertida figura humana deixou, entre nós, incontáveis histórias que fatalmente poderiam alimentar inúmeras crônicas. Mas, para aqueles que, como eu, presenciaram os inusitados banhos de mar, o que fica é a certeza de que a moda, assim como a política, a religião, a estética ou o futebol, não consegue fazer todos rezarem pela mesma cartilha. Sempre haverá alguém que seguirá por caminhos alternativos, como no caso de minha tia, que criou o seu próprio estilo, que lembra um coqueiro verde, ou melhor, fazer a sua opção pelo tom verde limão, para afrontar o branco das areias ou o azul da cor do mar de Copacabana.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Blog cupido

Não sei de que distantes tempos estás sempre vindo, cada vez mais perto ao meu encontro. O teu sol e as tuas estrelas nunca poderão esconder-te de mim para sempre”...

(Rabindranah Tagore)

Escrevo esta história de amor embalada por dupla satisfação: observar a alegria e a felicidade estampadas no rosto de uma amiga, enquanto ela me narrava a sua história, e me sentindo um pouco responsável pelos últimos acontecimentos em sua vida.

Tudo o que ela vive hoje começou aos 18 anos, em uma tarde ensolarada de férias de verão. Passeando por uma praia, seu olhar ainda explorava aquele lugar, quando se deteve em um rapaz, que passava por aquele local. Novos olhares, sorrisos, palavras soltas, coração batendo forte. Ela pressentiu que algo novo estava nascendo em sua vida, ainda dividida entre manter o hábito de não falar com estranhos e ceder aos impulsos do coração.

Aquele jovem foi chegando, assim, de mansinho, provocando-lhe um frio na barriga. Depois vieram novos encontros. Em noites de luar, palavras ao pé do ouvido. Eles estavam apaixonados.

Mas as férias terminaram e veio a separação inevitável. Moravam em cidades diferentes, não muito próximas. Precisavam voltar às aulas, retomar a rotina de suas vidas. Prometeram escreverem-se e encontrarem-se novamente, um dia, quem sabe, em algum lugar.

Cartas foram trocadas, cheias de suspiros, medos, lembranças, saudades, projetos para o futuro. Mas a vida segue o seu curso e o destino reserva surpresas. Cada um foi cedendo às novas circunstâncias, surgidas em suas vidas: novas prioridades, novas responsabilidades.

No vai e vem da vida, outros relacionamentos foram acontecendo: casamentos, filhos, separações. Afinal a vida é um processo dinâmico, onde as pessoas projetam, criam, modificam, erram, acertam, onde, enfim, as experiências vividas as levam a conhecer-se e a compreender os demais. Tendo sempre a proximidade como um dos fatores que marcam as relações rotineiras.

Os anos se passaram e eles já não tinham mais notícias um do outro. Nem por isso o destino deixou de fazer a sua parte. Afinal, como já dizia o poeta: se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarzinho.

Recentemente, ao pesquisar este blog, ele encontrou o nome de sua amada, citado em uma de minhas crônicas publicadas. Sem perder tempo, foi pesquisando, até encontrar seu telefone e endereço. Bateu em sua porta e entrou para ficar.

Resultado: hoje, 50 anos depois, retomaram aquele amor da juventude. Revivem os momentos felizes, desfrutados naquela praia distante. Mais renovados e maduros, mas com a mesma alegria. “Estamos namorando!”, disse-me ela, com um brilho diferente nos olhos.

Uma satisfação enorme invade meu coração ao fazer este relato, pois acredito que o amor, quando é verdadeiro, é eterno e nem o sol, nem as estrelas poderão escondê-lo, quando ele vem ao nosso encontro.

E eu, que pensava criar um blog para proporcionar lazer e entretenimento, agora vejo que ele também serve para encurtar distâncias e unir namorados. Que minha amiga, da qual prefiro não revelar o nome, receba toda a recompensa de suas emoções, nascidas aos 18 anos e desabrochadas aos 68, quando seu coração voltou a bater mais forte como se fosse aquela vez.

sábado, 30 de julho de 2011

Pimentões à mesa


Por um longo tempo não me considerei uma grande apreciadora de pimentões. Quando criança, então, nem sabia o gosto que tinham. Mas aos poucos aprendi a saboreá-los e a valorizar o seu uso culinário. Fui incorporando esse vegetal em meu cardápio de forma definitiva.

Hoje gosto de pimentões amarelos e vermelhos, refogados com berinjela e cebola. Como aperitivo, os sirvo com torradas ou biscoitos crocantes. Fica um sabor diferente e é um sucesso garantido, quando ofereço essa iguaria aos amigos que costumam visitar a minha casa.

Meu marido costuma repetir um dito popular, criado por grandes cozinheiros: não existe comida ruim, existe comida mal feita. A diferença está nas atitudes de quem vai preparar uma refeição. Tudo que é feito com amor gera bons frutos.

Uma noite de sábado, meu marido e eu recebemos o convite para visitar nossa afilhada Roberta. Como estava estreando sua casa e sua cozinha novas, a anfitriã preparou panquecas recheadas, adivinhem com o que? Pimentão, cenoura e vagem, cortados em tirinhas e cozidos ao dente no vapor. Estava divino.

Para a sobremesa, panquecas com creme de brigadeiro e morangos. Coisa de dar água na boca só de pensar. Além disso, minha afilhada soube prepará-los com todo o cuidado e usando, como temperos, sentimentos de amizade e de carinho. Essa noite passou para os anais de minha história, porque uma boa mesa sempre é motivo de união e afeto entre todos os comensais. Tudo esteve perfeito.

Não existem limites para quem deseja aliar sabor e propriedades à manutenção da boa saúde do corpo e da mente.

Pimentão é um alimento rico em potássio, fósforo, sódio, cálcio, além de vitamina A e C e do complexo B. Pode ser adicionado em saladas, assados, cozidos, molhos, enfim, ele dá sabor aos mais diversos pratos da culinária mundial. Dizem também que é um excelente antibiótico natural. Mas este é assunto para maiores conhecedores.

Por todos esses motivos e por terem formas e cores definidas, resolvi pintar essa leguminosa – ou fruto – em uma tela pequena para ornamentar a cozinha de alguém que aprecie a boa mesa.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Voar é com os pássaros

“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” Rubem Alves

Em que pese a atitude profissional de muitos professores, muitos deles conservando o seu idealismo mesmo frente às agruras de uma realidade adversa que enfrentam a cada dia, a escola brasileira, em geral, ainda registra muito o que fazer.

A mídia brasileira vem denunciando, quotidianamente, a existência de salas de aula sucateadas, inexistência de bibliotecas, merenda escolar mal preparada ou com prazo de validade vencido, livros didáticos com erros grosseiros de português, professores mal pagos ou mal preparados, alunos agredindo professores. Onde vai parar a educação de nossas crianças? Será que o Brasil vai ser eternamente o país de um futuro que nunca chega? Será que os alunos brasileiros estão se tornando pássaros engaiolados?

Sou de um tempo em que as escolas públicas eram asas, não gaiolas. Alguns professores marcavam positivamente a sua presença na vida escolar do aluno. Lembro-me de dona Leda, professora de Latim, que ensinava as declinações com sua voz mansa e seu olhar cativante ao mesmo tempo em que me dava conselhos. Dona Ida, professora de Francês, por sua vez era uma “tirana”, exigente, quase não sorria. Quem conseguia tirar sete com ela sentia-se uma vencedora. A turma tremia quando ela entrava na sala e nem por isso eu e minhas colegas ficamos “traumatizadas”. Ah! Terminamos o ginásio sabendo, pelo menos, nos defendermos no idioma de Balsac.

Mas, principalmente, assim como ainda existem hoje, tive o privilégio de conhecer professores de Português, em minha trajetória escolar, inclusive na Universidade, que amavam a língua e encorajavam o querer aprender. Viajei por mundos encantados guiada por esses mestres que despertaram em mim o amor por poesias, contos, romances... Assim aprendi a amar a língua pátria, a apreciar a boa leitura, a boa conversação.

Muitos outros professores passaram pela minha vida, cada um com suas características, trazendo um pouco de si para ajudar-me a fazer minhas escolhas. Vivi em uma época em que era inadmissível faltar com respeito aos professores ou não cumprir com as obrigações escolares. Nem por isso eu e minhas colegas deixávamos de lado nossa espontaneidade, nossas brincadeiras, nossos sonhos de adolescentes.

Recentemente, deparei-me com a notícia de que “especialistas educacionais“ orientam, em livro didático distribuído pelo MEC, que o erro de concordância gramatical seja permitido oralmente ao aluno. Estão esquecendo que a língua é patrimônio de um povo. Estão querendo nivelar a educação por baixo. Estão esquecendo que, em uma seleção de emprego ou mesmo para se defender na vida, é necessário falar e escrever com clareza. De forma simples, porém correta e objetiva. Estão esquecendo que a palavra bem empregada permite ao cidadão reivindicar, lutar por seus direitos, argumentar, defender seus pontos de vista. Estão esquecendo de como se encorajam os pequenos pássaros para vôos mais altos.

Não sou e nem pretendo ser especialista em diagnosticar as falhas na educação atual. Para mim é necessário prestar atenção no que acontece não só dentro, mas fora do ambiente escolar. Pais que não são capazes de orientar seus filhos para a vida e muito menos acompanhá-los nas atividades escolares. Famílias destruídas pelas drogas, pela ignorância, pela miséria e pela violência. Gerações que não tiveram chances, não conseguiram despertar o desejo adormecido de voar dentro de si.

Fica a indagação, frente a esse cenário, de como sensibilizar alunos a despertar o seu interesse pelo estudo e pela idéia de serem eles agentes de seu próprio aprendizado? Como a escola poderá criar asas, abrindo a portinhola de suas gaiolas?

Ando pensando na permissividade que existe atualmente nas escolas. Professor não pode chamar a atenção do aluno, senão é xingado, apanha, é ameaçado e muitas vezes até morto. Professor não pode mais reprovar o aluno. A sociedade esqueceu que essa conveniência ou omissão irá prejudicar os jovens no seu desempenho profissional futuro, pois não serão capazes de interpretar sequer o texto que lêem ou coordenar as idéias ao escrever ou ao falar. Esqueceram que o saber exige esforço, coragem e determinação. Escolas são asas e não gaiolas!

Há alguns anos, ao revisar as lições de casa de minha filha, então cursando o ensino fundamental, constatei um erro de concordância em seu caderno de Português. Lembro-me que fiz com que ela escrevesse uma página inteira da expressão corretamente. Hoje, jornalista, ela lembra o episódio às gargalhadas e afirma:”mãe, eu nunca mais esqueci”.

Seriedade, responsabilidade, disciplina, estudo são fatores que precisam estar na frente dos objetivos de alunos, professores, pais e de toda a sociedade para que possamos cobrar constantemente dos governos maior seriedade e prioridade nas questões da educação. Somente assim formaremos um Brasil de todos. Pois, como disse o poeta, “o vôo já nasce dentro dos pássaros, o vôo não pode ser ensinado, tem de ser encorajado”.

domingo, 22 de maio de 2011

Beija-Flor



Um pássaro bem pequeno, talvez a menor ave existente na face da terra. Seu nome, não poderia ser outro: beija-flor. É facilmente adaptável a qualquer ambiente. Na verdade, não exige muito para sobreviver. Constrói seu ninho em qualquer tipo de árvore e busca seu alimento nas flores, facilmente encontradas em jardins, hortas, campos e parques. Além disso, não teme as pessoas e vive nas cidades sem dificuldade. Perfeito exemplo de convivência com o todo.

O desempenho dessa ave no ar é admirável. Aproxima-se rapidamente da flor, desvia o vôo em qualquer ângulo, voa de cabeça para baixo, dá marcha a ré e fica parado no ar, batendo as asas, sem se cansar. Tudo é ritmo. Tudo é equilíbrio.

Tudo baseado num vôo e numa parada estratégica de chegar ao que é belo para extrair a essência da vida. E eu, contemplando este instante de pausa, este momento único de quietude e de harmonia fico a pensar como nos custa, em nosso dia-a-dia, pararmos um pouco com as atividades e aquietarmo-nos. Como é difícil encontrarmos um momento para ficarmos suspensos no ar como o beija-flor em perfeita harmonia. Como é complicado concentrar-nos no aqui e no agora para, em seguida, nos lançarmos novamente em vôo buscando novas descobertas.

Encanta-me observá-lo estacionar no ar, batendo suas asas para beijar a flor. É o único ser vivo que faz esta proeza. Por isso o retratei em tela para eternizar o movimento dessa pequenina ave, pairando no ar para encontrar a flor.

Assim somos, corremos, sofremos, andamos de um lado para o outro. Voamos em várias direções. Mas chega o momento que é preciso parar. Abastecer as nossas energias necessárias para poder continuar. Ai é o momento do encontro. É o momento de celebrar a divindade que existe dentro de nós.

O beija-flor, colibri ou cuitelo tem sua origem na América do Sul, de onde se espalhou para o resto do continente. Pode ser encontrado tanto nas florestas tropicais como nos desertos, montanhas e planícies, pois se adapta a todo tipo de clima. Algumas espécies vivem nas regiões frias como o Alasca, outras convivem muito bem no calor tropical. Não importa. Em qualquer recanto onde houver flores se abrindo, essa pequenina criatura é atraída pelo seu perfume para deliciar-se com seu mel.

Mas foi aqui, no Espírito Santo, onde pude conhecer, conviver e aprender a reverenciá-lo por sua beleza e traços peculiares. Mais precisamente quando visitei o município de Santa Tereza que, justamente por esse fato também é conhecida como Beija Flor do Espírito Santo.

Passeando pela cidade, vemos em quase todas as casas um recipiente com água doce, nas janelas ou nas varandas, para que esse pequeno pássaro possa alimentar-se, sem receios.

É ali que podemos, também, visitar o museu Mello Leitão, que reúne um conjunto de ambientes e edificações característicos da região. Seu valioso acervo científico de plantas e animais tem atraído a atenção de pesquisadores de diversos países. Entre suas coleções o destaque, evidentemente, é a de beija-flores, com cerca de 1.700 exemplares. São as aves símbolos do Espírito Santo.

A experiência retratada revela instantes interiores vividos. Para cada leitor, que agora me lê, fica o convite para criar uma oportunidade de ficar frente a frente com um desses exemplares, admirar o seu belo vôo e também sua parada no ar, mostrando que a vida é feita de movimentos e reflexões, mudanças, adaptações e ajustes, inspirados na necessidade que sentimos de ver a vida como um simples beija-flor.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Outono

Outono: essas folhas que tombam na água parada dos tanques e não podem sair viajando pelas correntes do mundo”... – Mário Quintana

Outono é estação de estagnação, como induz a frase do Poeta?

Não creio. O outono é uma estação de transição, de renovação, de nascimentos. É o velho abrindo espaço para o novo entrar. O céu fica mais azul, os dias mais iluminados, as cores da natureza mais definidas. As folhas das árvores vão ao chão, deixando uma sensação de renovação da vida.

Os dias e noites têm a mesma duração, porque a posição do Sol está exatamente na linha do Equador. Pouco a pouco, com o passar dos dias, o movimento de translação da Terra vai fazendo com que as noites cheguem mais cedo, sendo mais amenas e agradáveis para dormir, enquanto o amanhecer custa um pouco mais a acontecer.

Outono é a estação das frutas. Mesmo com a utilização das modernas tecnologias de cultivo, que nos permitem colher as mais diversas frutas, durante todo o ano, é, porém, no outono que abacates, caquis, bananas, carambolas, goiabas, laranjas, maçãs, melancias, maracujás, mexericas ou bergamotas, peras, pinhas ficam mais saborosas, doces e convidativas para o paladar apurado.

É também tempo de colher abóboras, alhos porós, aspargos, batatas doces, berinjelas, beterrabas, chuchus, inhames, mandiocas, mandioquinhas, milhos verdes e tomates. Para quem não tem o hábito de comer leguminosas, é uma boa hora para criar coragem e começar a fazê-lo nesta estação de mudanças.

E por que não falar das flores? Cravos, margaridas, crisântemos, cravinas, begônias e as que florescem nos dois últimos meses do outono, as tulipas, nos encantam, perfumam e enchem nossos olhos de beleza.

Outono é tempo de Páscoa, de comemorar-se o Dia das Mães, o Dia do Trabalho. É registro histórico do que acontece entre gerações: o Descobrimento do Brasil, a morte de Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira, e a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel.

É no outono, precisamente no mês de maio, mês iluminado, mês místico, que católicos comemoram do Dia de Nossa Senhora de Fátima, de Nossa Senhora da Penha e de Santa Rita de Cássia. Em maio também nasceu Joana D’Arc, santa, guerreira, mártir, lenda...

Como vivemos em um país tropical, dizemos que a mudança das estações do ano passa quase despercebida, a não ser para quem mora no Sul do Brasil. Mero engano. Durante o outono, mesmo na região sudeste, podemos perceber perfeitamente as mudanças no ar, no cheiro, no vento, no vôo das aves, na vibração da natureza.

No outono, a natureza se prepara para uma nova fase. Há um equilíbrio entre a alegria do verão e a sobriedade do inverno; o contraste entre o calor intenso do sol e as temperaturas mais baixas.

Mais do que simples folhas secas, que caem das árvores e ficam imóveis nos tanques, como lembra o Poeta, somos verdadeiras fontes renováveis, em busca de novos recursos, novas alternativas, pois no livro da vida não existe nada fixo, tudo vibra, tudo se transforma. Em pleno outono tudo acontece.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Chocolate, uma paixão

Chocolate tem gosto de carinho e cheiro de alegria. Algumas vezes minha filha, no final do dia, ao chegar do trabalho, costuma presentear-me com algum bombom. Ela sabe que adoro chocolates e não posso resistir a este presente dado com tanto carinho. Não tenho pudores. Logo me ponho a saborear a doçura. Rimos as duas, com cumplicidade.

Uma lenda asteca conta que o deus da Lua roubou uma árvore de cacau da terra dos filhos do Sol para presentear seus amigos, os homens, com aquela delícia dos deuses. O presente foi muito bem aceito e hoje é apreciado por crianças e adultos das mais variadas idades, em todos os cantos deste planeta, em suas diversas formas, ora ao leite, amargo ou branco; incrementado com passas, castanhas, amendoim, avelãs, amêndoas ou de tantas outras maneiras que a criatividade permitir.

Oferecer chocolates como um presente especial tornou-se um hábito e pode exprimir, sem palavras, ditas ou escritas, os mais diversos sentimentos. Pode vir em forma de “eu te amo”, “me desculpe”, “lembrei de você”, “boa viagem”, “boa Páscoa”, “felicidades”, “obrigado”, ou tantos outros significados ditados pelo coração. O gesto é que vale.

Dizem que chocolate engorda. Que me importa! Não como tanto assim, nem exagero. Permito-me saboreá-lo devagar, deixando-o desmanchar na boca sem pressa. Como um só, sem querer mais. Não chego a ser uma chocólatra, pois não consumo compulsivamente. Contenho a impulsividade e administro a minha vontade.

Pesquisas vem apontando que o chocolate pode até favorecer o emagrecimento. É só comer um pequeno tablete pela manhã, em jejum. É que assim, dizem os pesquisadores, ele aumenta a saciedade e, com o passar das horas, sente-se menos fome. Mas preste atenção: não pode abusar da quantidade!

Não sinto vergonha de consumir o chocolate por prazer. Sei que há efeitos positivos para a saúde, já comprovados, na ingestão deste alimento. O chocolate amargo, coincidentemente o que mais aprecio, é benéfico para o sistema circulatório. Também possui propriedades anticancerígenas e estimulantes cerebrais. Que bom!

Outra coisa: ingerir pequenas quantidades de chocolate reduz o risco de ataques cardíacos. Além disso, o chocolate é um alimento muito nutritivo. Contém proteínas, gorduras, cálcio, magnésio, ferro, zinco, caroteno, vitaminas E,B1, B2, B3, B6, B12 e C. Não chega?

Toda essa conversa fez-me lembrar de um belo filme – Chocolate – que conta a história de uma jovem mãe solteira cujos chocolates, através da magia contida em seus ingredientes, mudam a vida de diversas pessoas de uma cidadezinha na zona rural francesa. Os quitutes que ela prepara são de dar água na boca e vão conquistando pouco a pouco a população da cidade que, no princípio, a rejeitava preconceituosamente. Deliciei-me em assisti-lo.

Aliás, tudo o que é preparado com chocolate é delicioso. Bolo de chocolate. Sorvete de chocolate. Creme de chocolate. Trufas. Torta de chocolate. Mousse. Bombons. Negrinho (como chamamos no Sul o mais famoso de todos os docinhos - o Brigadeiro).

O chocolate pode ser apreciado na forma sólida, pastosa ou líquida. Como é gostoso nas tardes frias de inverno beber um chocolate quente enquanto se bate um papo com amigos...

As receitas são inúmeras. Cada um tem a sua preferida. E cada qual a considera a melhor. As misturas, os aromas exalados pelas receitas preparadas com chocolate nos remetem a mundos encantados. O chocolate favorece a liberação de endorfinas e encefalinas que produzem o prazer, dizem os entendidos no assunto. Mas para mim, mais importante que o prazer contido nos sabores está o prazer de compartilhar, de doar-se, de manifestar os sentimentos mais sinceros através de um pequeno gesto como o de oferecer um bombom.

domingo, 17 de abril de 2011

Páscoa e renovação

Domingo de Páscoa lembra cheiro de chocolate e almoço em família.

Lembra alegria, a mesa farta, o ruído de talheres, a tagarelice das crianças, as risadas, a descontração. Lembra infância.

Quando criança, meus irmãos e eu acordávamos bem cedo e corríamos pela casa, alvoroçados à procura das cestas de ovos e dos coelhinhos de chocolate, escondidos na véspera, por minha mãe. A alegria era geral. Cada um querendo mostrar seu “ninho” repleto de coisas deliciosas aos amigos.

Nos domingos de Páscoa, os almoços em família eram verdadeiramente considerados sagrados. Minhas avós vinham almoçar conosco e compartilhavam dessa alegria. Tradição que, mais tarde, meu marido e eu procuramos preservar, repassando aos nossos filhos, amparados pela importância da união e do amor em verdadeiros momentos de partilha.

Também me vem à lembrança que, nos dias que antecediam a Páscoa, pintávamos as cascas de ovos para enchê-los de amendoim doce ou pequeninas balas de goma. Esses ovos eram preparados às vésperas desse grande acontecimento. Quem utilizasse ovos, na culinária, deveria retirar a gema e a clara, delicadamente, através de um pequeno furo, lavando as cascas com cuidado, para receberem a pintura feita pela gurizada.

Essa prática de pintar as cascas de ovos cozidos, decorando-os com desenhos e formas abstratas, é um costume comum em muitos países. É uma alusão aos antigos rituais pagãos, nos quais o ovo trazia a idéia de começo de vida. Os povos antigos costumavam presentear os amigos com os ovos, desejando-lhes boa sorte.

Com o tempo, pela praticidade e pelo espírito de consumo, nós brasileiros passamos a substituir os ovos decorados pelos ovos de chocolate, expostos abundantemente nos corredores dos supermercados para estimular a gula de crianças e adultos. Não é à toa que, durante essa época, as indústrias aumentam consideravelmente o seu faturamento. Mesmo assim, algumas comunidades – geralmente de descendência nórdica - ainda cultivam a tradição de pintar ovos.

Minhas lembranças me deixaram um significado mais abrangente para a Páscoa do que atualmente as novas gerações a vivem, onde tudo já vem pronto e onde a família perde, com o tempo, o sentido de ritual e partilha. E, sobretudo, de reflexão sobre o momento crístico que está presente nesta comemoração.

Para mim a Páscoa é momento de renovação. É momento de introspecção. É momento de fazermos uma avaliação de nossas ações e sentimentos. É sermos capazes de mudar, de partilhar a vida na esperança. É tempo de investir na fraternidade, de ajudar mais gente a ser gente. É crer na vida que vence a morte.

A palavra Páscoa advém do nome hebraico pessach, alusivo à festa judaica, tradição que se renova para esses e, que também serviu de inspiração para os católicos, como símbolo de uma nova vida, que agregou às influências deixadas pelos pagãos (comemoração da passagem do inverno para a primavera) e pelos judeus (passagem da escravatura no Egito para a liberdade na terra prometida), como sucedâneo da paixão e morte de Jesus.

Segundo a tradição contemporânea, incorpora-se a essa passagem a lembrança da Via Sacra – caminho sagrado, em latim – que retrata o percurso feito por Jesus desde o Pretório de Pilatos até a sua morte no Calvário e seu sepultamento. Os símbolos trazidos a nós, por essa Tradição, representam, também, a nossa própria via crucis. O que Cristo viveu inspira-nos a ter coragem para seguirmos em frente, não nos deixando abater pelas dificuldades da vida. Devemos encarar nossos obstáculos seguindo pelo caminho do amor.

Uma ótima oportunidade para despertar novos projetos de vida. Assim como o ovo representa o renascer, a Páscoa é um convite para abandonarmos a nossa soberba, optando pela humildade, tornando-nos sóbrios e vigilantes, resistindo às forças que nos empurram para atalhos que não nos levam a lugar algum.

Sempre que ficarmos diante de apetitosos e convidativos ovos de chocolate, lembremos dos símbolos da Páscoa, que marcam a busca da felicidade, da harmonia, da essência da vida comunitária, seja na família, seja na vida deste País, seja na condição de habitantes deste Planeta que, de tempos e tempos, renovam as tradições e aperfeiçoam os símbolos que se tornam universais.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A força dos ventos

Na construção de meu colar de pérolas, não posso deixar de registrar episódios que me trazem pesar e me faz sentir parte integrante desta aldeia global. É o caso da atual saga, vivida pelo povo japonês. Desde o último dia 11 de março, data em que ocorreu um terremoto, em áreas submersas do Oceano Pacífico, o Japão registra um cenário de mortes e de destruição, em larga escala, além de conviver com os efeitos danosos da radioatividade devido aos danos causados em suas usinas nucleares.

Muitos podem dizer que os efeitos de Fukushima estão longe e não atingem países como Brasil. Será verdade? Ao que tudo indica não. Atualmente, notícias veiculadas pela agência Jiji Press, dão conta que o iodo radioativo, detectado na água do mar, recolhida a 300 metros da central nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, já se caracteriza 3.355 vezes superior ao normal. Seus efeitos já começam a ser sentidos pelos governos da China, da Coreia do Sul e dos Estados Unidos devido a propagação da radiação existente em território japonês.

Nos Estados Unidos, os vestígios da radioatividade que vazou da central nuclear foram encontrados na água da chuva, no nordeste daquele país. No entanto, não há riscos para a saúde, segundo informou a agência americana de proteção do meio ambiente (EPA).

Por isso penso que agora o problema já não é só dos japoneses, mas nosso, da humanidade. E tudo se deriva das escolhas que fazemos. Elas podem, em algum momento, gerar conseqüências benéficas, como é a utilização da energia nuclear para efeitos de suprir demandas às necessidades de crescimento e desenvolvimento dos povos. Mas essas mesmas escolhas podem trazer efeitos danosos, como aqueles gerados em Fukushima.

Consideradas tais preocupações, realizou-se o 2º Fórum Mundial de Sustentabilidade, entre os dias 24 e 26 de março, no Hotel Tropical, em Manaus (AM), que teve como tema “Sustentabilidade Econômica, Ambiental e Social da Amazônia e do Planeta”.

Mesmo sendo um evento realizado mais para a mídia do que para a efetiva construção de uma matriz energética alternativa, alguns convidados foram enfáticos. O ex-presidente dos EUA destacou as vantagens brasileiras no cenário climático internacional, afirmando que “vocês têm a oportunidade de construir um país dinâmico sem destruição. O Brasil trabalhou na contenção do desmatamento da Amazônia (reduzido em 75%) e é liderança mundial na eficiência da produção de etanol. Quero que o Brasil lidere o mundo na questão energética. O Brasil merece crédito por isso” disse ele. O ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Scwarzenegger, e o premiado cineasta James Cameron ratificaram esse pensamento: “Vocês têm a oportunidade de construir um país dinâmico sem destruição.” Então, mãos à obra!

A despeito das reflexões desse encontro, consideradas incipientes, o Planeta Terra merece que tais discussões cheguem à pauta da ONU – Organização das Nações Unidas, para que a questão energética saia dos interesses econômicos para atentar às grandes questões ambientais.

Em minhas reflexões, olho para o meu colar de pérolas e me lembro de uma recente passagem que meu marido e eu fizemos pelo litoral do Rio Grande do Sul. Ao visitarmos o Parque Eólico, em Osório, perguntei-me por que o ser humano continua a insistir na utilização de fontes que podem se tornar nocivas à saúde deste Planeta, em lugar de optar por energias mais limpas, seguras e eficientes, como é o caso da energia eólica.

Esse Parque Eólico pode ser visto da auto-estrada BR 290 (Free-Way), da RS030 e de praticamente todos os bairros de Osório. Tem uma capacidade instalada estimada em 150 MW (energia capaz de atender uma cidade de 700 mil habitantes), sendo constituída por 75 torres de aerogeradores. Os módulos das torres foram construídos em Gravataí (RS) e montados em Osório (RS). As pás dos aerogeradores foram fabricadas em Sorocaba (SP).

Como aprendemos na escola, o vento é o ar em movimento. E ele está aí, na natureza, sem cobrar pedágio. Não pagamos nada para sentir a brisa acariciar suavemente o nosso rosto ou apreciarmos o doce balançar das árvores ou os barcos a vela cruzando o azul do mar. Por que não aproveitá-lo?

Durante toda a história da civilização humana, o vento tem inspirado a mitologia, afetado os acontecimentos históricos, estendido o alcance do transporte e proporcionado uma fonte de energia para o trabalho mecânico, a eletricidade e o lazer.

Em países como o Brasil, mesmo possuindo uma grande malha hidrográfica, a energia eólica pode se tornar importante no futuro, porque ela não consome água, que é um bem cada vez mais escasso no nosso planeta. Em países com uma malha hidrográfica pequena, então, a energia eólica passa a ter um papel fundamental como talvez a única energia limpa e eficaz nesses locais.

Além da questão ambiental, as turbinas eólicas possuem a vantagem de poderem ser utilizadas tanto em conexão com redes elétricas como em lugares isolados, não sendo necessária a implementação de linhas de transmissão para alimentar certas regiões.

O vento gira uma hélice gigante conectada a um gerador que produz eletricidade. Vários mecanismos como esse - conhecido como turbina de vento - são ligados a uma central de transmissão de energia.

A quantidade de energia produzida por uma turbina varia de acordo com o tamanho das suas hélices e, é claro, do regime de ventos na região em que está instalada. E não pense que o ideal é contar simplesmente com ventos fortes. Além da velocidade dos ventos, é importante que esses sejam regulares, não sofram turbulências e nem estejam sujeitos a fenômenos climáticos como tufões.

O que impede a instalação de mais centrais eólicas ainda é o preço. A energia gerada por uma central eólica custa entre 60% e 70% a mais que a mesma quantidade gerada por uma usina hidrelétrica. Por outro lado, a energia do vento tem a grande vantagem de ser inesgotável e causar pouquíssimo impacto ao ambiente.

Oxalá, durante a construção de meu colar de pérolas, eu possa ver que o ser humano aprendeu a sua lição e passe a trabalhar a favor deste planeta, ampliando a sua escala de visão e deixando de pensar sectariamente com base somente no fortalecimento de suas economias, de sua hegemonia e de sua soberania, em detrimento de uma aldeia global que, neste momento, assiste, estarrecida, tudo que nossos irmãos japoneses estão vivendo, desde o último dia 11 de março, que ficará registrado nos anais da humanidade.