sábado, 30 de julho de 2011

Pimentões à mesa


Por um longo tempo não me considerei uma grande apreciadora de pimentões. Quando criança, então, nem sabia o gosto que tinham. Mas aos poucos aprendi a saboreá-los e a valorizar o seu uso culinário. Fui incorporando esse vegetal em meu cardápio de forma definitiva.

Hoje gosto de pimentões amarelos e vermelhos, refogados com berinjela e cebola. Como aperitivo, os sirvo com torradas ou biscoitos crocantes. Fica um sabor diferente e é um sucesso garantido, quando ofereço essa iguaria aos amigos que costumam visitar a minha casa.

Meu marido costuma repetir um dito popular, criado por grandes cozinheiros: não existe comida ruim, existe comida mal feita. A diferença está nas atitudes de quem vai preparar uma refeição. Tudo que é feito com amor gera bons frutos.

Uma noite de sábado, meu marido e eu recebemos o convite para visitar nossa afilhada Roberta. Como estava estreando sua casa e sua cozinha novas, a anfitriã preparou panquecas recheadas, adivinhem com o que? Pimentão, cenoura e vagem, cortados em tirinhas e cozidos ao dente no vapor. Estava divino.

Para a sobremesa, panquecas com creme de brigadeiro e morangos. Coisa de dar água na boca só de pensar. Além disso, minha afilhada soube prepará-los com todo o cuidado e usando, como temperos, sentimentos de amizade e de carinho. Essa noite passou para os anais de minha história, porque uma boa mesa sempre é motivo de união e afeto entre todos os comensais. Tudo esteve perfeito.

Não existem limites para quem deseja aliar sabor e propriedades à manutenção da boa saúde do corpo e da mente.

Pimentão é um alimento rico em potássio, fósforo, sódio, cálcio, além de vitamina A e C e do complexo B. Pode ser adicionado em saladas, assados, cozidos, molhos, enfim, ele dá sabor aos mais diversos pratos da culinária mundial. Dizem também que é um excelente antibiótico natural. Mas este é assunto para maiores conhecedores.

Por todos esses motivos e por terem formas e cores definidas, resolvi pintar essa leguminosa – ou fruto – em uma tela pequena para ornamentar a cozinha de alguém que aprecie a boa mesa.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Voar é com os pássaros

“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” Rubem Alves

Em que pese a atitude profissional de muitos professores, muitos deles conservando o seu idealismo mesmo frente às agruras de uma realidade adversa que enfrentam a cada dia, a escola brasileira, em geral, ainda registra muito o que fazer.

A mídia brasileira vem denunciando, quotidianamente, a existência de salas de aula sucateadas, inexistência de bibliotecas, merenda escolar mal preparada ou com prazo de validade vencido, livros didáticos com erros grosseiros de português, professores mal pagos ou mal preparados, alunos agredindo professores. Onde vai parar a educação de nossas crianças? Será que o Brasil vai ser eternamente o país de um futuro que nunca chega? Será que os alunos brasileiros estão se tornando pássaros engaiolados?

Sou de um tempo em que as escolas públicas eram asas, não gaiolas. Alguns professores marcavam positivamente a sua presença na vida escolar do aluno. Lembro-me de dona Leda, professora de Latim, que ensinava as declinações com sua voz mansa e seu olhar cativante ao mesmo tempo em que me dava conselhos. Dona Ida, professora de Francês, por sua vez era uma “tirana”, exigente, quase não sorria. Quem conseguia tirar sete com ela sentia-se uma vencedora. A turma tremia quando ela entrava na sala e nem por isso eu e minhas colegas ficamos “traumatizadas”. Ah! Terminamos o ginásio sabendo, pelo menos, nos defendermos no idioma de Balsac.

Mas, principalmente, assim como ainda existem hoje, tive o privilégio de conhecer professores de Português, em minha trajetória escolar, inclusive na Universidade, que amavam a língua e encorajavam o querer aprender. Viajei por mundos encantados guiada por esses mestres que despertaram em mim o amor por poesias, contos, romances... Assim aprendi a amar a língua pátria, a apreciar a boa leitura, a boa conversação.

Muitos outros professores passaram pela minha vida, cada um com suas características, trazendo um pouco de si para ajudar-me a fazer minhas escolhas. Vivi em uma época em que era inadmissível faltar com respeito aos professores ou não cumprir com as obrigações escolares. Nem por isso eu e minhas colegas deixávamos de lado nossa espontaneidade, nossas brincadeiras, nossos sonhos de adolescentes.

Recentemente, deparei-me com a notícia de que “especialistas educacionais“ orientam, em livro didático distribuído pelo MEC, que o erro de concordância gramatical seja permitido oralmente ao aluno. Estão esquecendo que a língua é patrimônio de um povo. Estão querendo nivelar a educação por baixo. Estão esquecendo que, em uma seleção de emprego ou mesmo para se defender na vida, é necessário falar e escrever com clareza. De forma simples, porém correta e objetiva. Estão esquecendo que a palavra bem empregada permite ao cidadão reivindicar, lutar por seus direitos, argumentar, defender seus pontos de vista. Estão esquecendo de como se encorajam os pequenos pássaros para vôos mais altos.

Não sou e nem pretendo ser especialista em diagnosticar as falhas na educação atual. Para mim é necessário prestar atenção no que acontece não só dentro, mas fora do ambiente escolar. Pais que não são capazes de orientar seus filhos para a vida e muito menos acompanhá-los nas atividades escolares. Famílias destruídas pelas drogas, pela ignorância, pela miséria e pela violência. Gerações que não tiveram chances, não conseguiram despertar o desejo adormecido de voar dentro de si.

Fica a indagação, frente a esse cenário, de como sensibilizar alunos a despertar o seu interesse pelo estudo e pela idéia de serem eles agentes de seu próprio aprendizado? Como a escola poderá criar asas, abrindo a portinhola de suas gaiolas?

Ando pensando na permissividade que existe atualmente nas escolas. Professor não pode chamar a atenção do aluno, senão é xingado, apanha, é ameaçado e muitas vezes até morto. Professor não pode mais reprovar o aluno. A sociedade esqueceu que essa conveniência ou omissão irá prejudicar os jovens no seu desempenho profissional futuro, pois não serão capazes de interpretar sequer o texto que lêem ou coordenar as idéias ao escrever ou ao falar. Esqueceram que o saber exige esforço, coragem e determinação. Escolas são asas e não gaiolas!

Há alguns anos, ao revisar as lições de casa de minha filha, então cursando o ensino fundamental, constatei um erro de concordância em seu caderno de Português. Lembro-me que fiz com que ela escrevesse uma página inteira da expressão corretamente. Hoje, jornalista, ela lembra o episódio às gargalhadas e afirma:”mãe, eu nunca mais esqueci”.

Seriedade, responsabilidade, disciplina, estudo são fatores que precisam estar na frente dos objetivos de alunos, professores, pais e de toda a sociedade para que possamos cobrar constantemente dos governos maior seriedade e prioridade nas questões da educação. Somente assim formaremos um Brasil de todos. Pois, como disse o poeta, “o vôo já nasce dentro dos pássaros, o vôo não pode ser ensinado, tem de ser encorajado”.