quarta-feira, 30 de março de 2011

A força dos ventos

Na construção de meu colar de pérolas, não posso deixar de registrar episódios que me trazem pesar e me faz sentir parte integrante desta aldeia global. É o caso da atual saga, vivida pelo povo japonês. Desde o último dia 11 de março, data em que ocorreu um terremoto, em áreas submersas do Oceano Pacífico, o Japão registra um cenário de mortes e de destruição, em larga escala, além de conviver com os efeitos danosos da radioatividade devido aos danos causados em suas usinas nucleares.

Muitos podem dizer que os efeitos de Fukushima estão longe e não atingem países como Brasil. Será verdade? Ao que tudo indica não. Atualmente, notícias veiculadas pela agência Jiji Press, dão conta que o iodo radioativo, detectado na água do mar, recolhida a 300 metros da central nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, já se caracteriza 3.355 vezes superior ao normal. Seus efeitos já começam a ser sentidos pelos governos da China, da Coreia do Sul e dos Estados Unidos devido a propagação da radiação existente em território japonês.

Nos Estados Unidos, os vestígios da radioatividade que vazou da central nuclear foram encontrados na água da chuva, no nordeste daquele país. No entanto, não há riscos para a saúde, segundo informou a agência americana de proteção do meio ambiente (EPA).

Por isso penso que agora o problema já não é só dos japoneses, mas nosso, da humanidade. E tudo se deriva das escolhas que fazemos. Elas podem, em algum momento, gerar conseqüências benéficas, como é a utilização da energia nuclear para efeitos de suprir demandas às necessidades de crescimento e desenvolvimento dos povos. Mas essas mesmas escolhas podem trazer efeitos danosos, como aqueles gerados em Fukushima.

Consideradas tais preocupações, realizou-se o 2º Fórum Mundial de Sustentabilidade, entre os dias 24 e 26 de março, no Hotel Tropical, em Manaus (AM), que teve como tema “Sustentabilidade Econômica, Ambiental e Social da Amazônia e do Planeta”.

Mesmo sendo um evento realizado mais para a mídia do que para a efetiva construção de uma matriz energética alternativa, alguns convidados foram enfáticos. O ex-presidente dos EUA destacou as vantagens brasileiras no cenário climático internacional, afirmando que “vocês têm a oportunidade de construir um país dinâmico sem destruição. O Brasil trabalhou na contenção do desmatamento da Amazônia (reduzido em 75%) e é liderança mundial na eficiência da produção de etanol. Quero que o Brasil lidere o mundo na questão energética. O Brasil merece crédito por isso” disse ele. O ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Scwarzenegger, e o premiado cineasta James Cameron ratificaram esse pensamento: “Vocês têm a oportunidade de construir um país dinâmico sem destruição.” Então, mãos à obra!

A despeito das reflexões desse encontro, consideradas incipientes, o Planeta Terra merece que tais discussões cheguem à pauta da ONU – Organização das Nações Unidas, para que a questão energética saia dos interesses econômicos para atentar às grandes questões ambientais.

Em minhas reflexões, olho para o meu colar de pérolas e me lembro de uma recente passagem que meu marido e eu fizemos pelo litoral do Rio Grande do Sul. Ao visitarmos o Parque Eólico, em Osório, perguntei-me por que o ser humano continua a insistir na utilização de fontes que podem se tornar nocivas à saúde deste Planeta, em lugar de optar por energias mais limpas, seguras e eficientes, como é o caso da energia eólica.

Esse Parque Eólico pode ser visto da auto-estrada BR 290 (Free-Way), da RS030 e de praticamente todos os bairros de Osório. Tem uma capacidade instalada estimada em 150 MW (energia capaz de atender uma cidade de 700 mil habitantes), sendo constituída por 75 torres de aerogeradores. Os módulos das torres foram construídos em Gravataí (RS) e montados em Osório (RS). As pás dos aerogeradores foram fabricadas em Sorocaba (SP).

Como aprendemos na escola, o vento é o ar em movimento. E ele está aí, na natureza, sem cobrar pedágio. Não pagamos nada para sentir a brisa acariciar suavemente o nosso rosto ou apreciarmos o doce balançar das árvores ou os barcos a vela cruzando o azul do mar. Por que não aproveitá-lo?

Durante toda a história da civilização humana, o vento tem inspirado a mitologia, afetado os acontecimentos históricos, estendido o alcance do transporte e proporcionado uma fonte de energia para o trabalho mecânico, a eletricidade e o lazer.

Em países como o Brasil, mesmo possuindo uma grande malha hidrográfica, a energia eólica pode se tornar importante no futuro, porque ela não consome água, que é um bem cada vez mais escasso no nosso planeta. Em países com uma malha hidrográfica pequena, então, a energia eólica passa a ter um papel fundamental como talvez a única energia limpa e eficaz nesses locais.

Além da questão ambiental, as turbinas eólicas possuem a vantagem de poderem ser utilizadas tanto em conexão com redes elétricas como em lugares isolados, não sendo necessária a implementação de linhas de transmissão para alimentar certas regiões.

O vento gira uma hélice gigante conectada a um gerador que produz eletricidade. Vários mecanismos como esse - conhecido como turbina de vento - são ligados a uma central de transmissão de energia.

A quantidade de energia produzida por uma turbina varia de acordo com o tamanho das suas hélices e, é claro, do regime de ventos na região em que está instalada. E não pense que o ideal é contar simplesmente com ventos fortes. Além da velocidade dos ventos, é importante que esses sejam regulares, não sofram turbulências e nem estejam sujeitos a fenômenos climáticos como tufões.

O que impede a instalação de mais centrais eólicas ainda é o preço. A energia gerada por uma central eólica custa entre 60% e 70% a mais que a mesma quantidade gerada por uma usina hidrelétrica. Por outro lado, a energia do vento tem a grande vantagem de ser inesgotável e causar pouquíssimo impacto ao ambiente.

Oxalá, durante a construção de meu colar de pérolas, eu possa ver que o ser humano aprendeu a sua lição e passe a trabalhar a favor deste planeta, ampliando a sua escala de visão e deixando de pensar sectariamente com base somente no fortalecimento de suas economias, de sua hegemonia e de sua soberania, em detrimento de uma aldeia global que, neste momento, assiste, estarrecida, tudo que nossos irmãos japoneses estão vivendo, desde o último dia 11 de março, que ficará registrado nos anais da humanidade.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Caminhos

“Caminhos são mais antigos que a redondeza da Terra. Eles não descem os horizontes, seguem sozinhos, no ar.” rio Quintana

Os caminhos que levam à Ilha do Frade passam por uma pequena ponte que a liga à ilha de Vitória e conduzem a uma região rochosa, entremeada por pequenas faixas de areia, formando belas praias, de onde se descortina o litoral recortado da capital do Espírito Santo.

Esse cenário recentemente passou a incorporar a visão de casas construídas nas pontas das rochas, formando verdadeiros paredões que dificultam aos visitantes a vista das belas paisagens. Até o início dos anos 70, quando começou a ocupação imobiliária de áreas costeiras da atual metrópole, a natureza se mostrava em toda a sua exuberância. Até então, o local era procurado e apreciado apenas por aventureiros e pescadores que chegavam até lá usando pequenas embarcações.

Felizmente, em meio ao recente ambiente urbano, ruas arborizadas e bem calçadas, o visitante encontra, no coração da ilha, um pequeno parque com um lago, ladeado por árvores frondosas e vegetação mais rasteira. Corta o parque um estreito caminho de terra.

Diante de tantas notícias de terremotos, tsunamis, devastações, enchentes, guerras, assuntos que ocupam os meios de comunicação, pude respirar fundo, sossegar meu espírito e encher meus olhos com os mais diversificados tons de verde, passeando por essas alamedas. Encontrei, assim, inspiração para pintar este quadro ao qual denominei de Caminho Encantado.

Os caminhos da própria vida nos têm mostrado que a necessidade de se preservar a natureza se torna cada dia mais fundamental para quem almeja um futuro possível para os habitantes de nossas cidades.

Quem sabe novos caminhos levem a um novo mundo onde estejam garantidas a prosperidade e a qualidade de vida da humanidade ao mesmo tempo em que sejam preservados os recursos naturais deste planeta Terra. E, quem sabe, assim eles sigam sozinhos pelo ar.

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domingo, 20 de março de 2011

Mãe e Filha

... “Se quiseres compreender-me

Vem debruçar-te sobre a minha alma de África,

Nos gemidos dos negros no cais

Nos batuques frenéticos do muchopes

Na rebeldia dos machanganas

Na estranha melodia se evolando

Duma canção nativa noite dentro

E nada mais me perguntes,

Se é que me queres conhecer...

Que não sou mais que um búzio de carne

Onde a revolta de África congelou

Seu grito inchado de esperança”.

Noemia de Sousa - Nasceu em Catembe, Moçambique, em 1926. Faleceu em Cascais, Portugal, em 2002.

Pintei este quadro para, junto com os trabalhos de outras colegas do Curso de Pintura, decorar a festa de confraternização de final do ano 2010 do Centro de Convivência de Jardim da Penha, mantido pela Prefeitura Municipal de Vitória, ES. “África” foi o tema da ocasião. Uma homenagem que prestamos a este continente, de infinita diversidade cultural, étnica e política.

Quando a professora de Artes anunciou o tema, pensei; "o que vou pintar diante de um continente tão rico de colorido, música, crença, sons; tão cheio de movimento, suor, lágrimas, sorrisos... e por que não dizer repleto de muito sofrimento?"

Logo me inspirei na mulher africana. Mulher que, ao longo dos anos, tem enfrentado uma luta gigantesca para se afirmar como ser humano. Mulher que luta contra a opressão colonial, contra a fome e a miséria, exigindo o direito de criar seus filhos com dignidade. E que, muitas vezes, é obrigada a se deslocar de uma terra para outra à procura de sobrevivência ou fugindo das guerras civis que explodem em vários paises daquele continente.

É sabido que inúmeros fatores inibem o incremento econômico e cultural do continente africano e afetam particularmente o desenvolvimento das mulheres africanas como seres humanos íntegros. Destaco aqui a exclusão social, a violência familiar e cultural, a falta de acesso à instrução, a interdição do direito de voto e de propriedade, a excisão (terrível mutilação genital feminina), a violação, o apedrejamento e tantos outros que nem me atrevo a enumerar.

Mas há muitas mulheres africanas que lutam para conseguir modificar os errados conceitos impostos por opressores, investidos de poder que ignoram os direitos das mulheres. Apesar das inúmeras dificuldades, elas não perdem a alegria e a esperança de alcançar uma sociedade mais justa.

Por isso retrato Mãe e Filha africanas que olham para a frente, vislumbrando, quem sabe um futuro melhor, quando resolvermos definitivamente nos debruçarmos sobre a alma da África.

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