domingo, 11 de março de 2012

Uma rua qualquer



"Deixe a vida fluir livremente. Veja Deus fazer florescer milhões de flores todos os dias sem forçar os botões". Bhagwan Shree Rajneesh

Todos os dias eu passava pela rua, atrás da rua onde moro, e parava por alguns instantes a admirar a buganvilea toda florida destacando-se dos muros e casas.  Pensava com meus botões;"vou fazer um quadro desta árvore".


Toda vez que passava por ali observava nuances e sombras, cores e detalhes. Caminhava devagar, em horários diferenciados,  olhando, atentamente,  de todos os ângulos, a árvore florida . Até achar o que mais me agradou.


 Munida de coragem, pincéis, tintas e tela, parti para o desafio. Deixei fluir a imaginação e esqueci o medo de errar. 


Enquanto trabalhava nesse quadro, viajei pelo tempo. Voltei cerca de 30 anos, quando meu marido e eu, jovem casal, com três filhos pequenos, vindos de outro estado, chegamos nesta cidade, desconhecida para nós, cheios de planos e esperanças. 


Deste então, sempre neste mesmo bairro e rua, fixamos a nossa morada. Sonhamos,  trabalhamos, conquistamos nosso espaço. Muitas vezes, a saudade dos pagos bateu, mas não nos abateu. Muitas vezes a luta foi árdua. Mas posso, hoje, dizer que tudo o que vivemos não foi em vão. Aprendi, no decorrer desses anos,  que nada é impossível quando seguimos nossa orientação interior, mesmo quando sua direção vem desafiar-nos por ser contrária à nossa lógica corriqueira. 


Assim como ao pintar este quadro, misturei cores, pintei, apaguei, discuti, teimei, repintei até sair esta obra que hoje enfeita a sala da casa de minha filha,  fui construindo,  junto com meu companheiro,  este grande desafio que se chama vida. Quadro e vida vivida refletem as cores da existência: refletem o momento e também fazem parte de uma eternidade, onde o principal ingrediente exigido se chama sensibilidade e seu principal resultado se chama experiência.