domingo, 22 de maio de 2011

Beija-Flor



Um pássaro bem pequeno, talvez a menor ave existente na face da terra. Seu nome, não poderia ser outro: beija-flor. É facilmente adaptável a qualquer ambiente. Na verdade, não exige muito para sobreviver. Constrói seu ninho em qualquer tipo de árvore e busca seu alimento nas flores, facilmente encontradas em jardins, hortas, campos e parques. Além disso, não teme as pessoas e vive nas cidades sem dificuldade. Perfeito exemplo de convivência com o todo.

O desempenho dessa ave no ar é admirável. Aproxima-se rapidamente da flor, desvia o vôo em qualquer ângulo, voa de cabeça para baixo, dá marcha a ré e fica parado no ar, batendo as asas, sem se cansar. Tudo é ritmo. Tudo é equilíbrio.

Tudo baseado num vôo e numa parada estratégica de chegar ao que é belo para extrair a essência da vida. E eu, contemplando este instante de pausa, este momento único de quietude e de harmonia fico a pensar como nos custa, em nosso dia-a-dia, pararmos um pouco com as atividades e aquietarmo-nos. Como é difícil encontrarmos um momento para ficarmos suspensos no ar como o beija-flor em perfeita harmonia. Como é complicado concentrar-nos no aqui e no agora para, em seguida, nos lançarmos novamente em vôo buscando novas descobertas.

Encanta-me observá-lo estacionar no ar, batendo suas asas para beijar a flor. É o único ser vivo que faz esta proeza. Por isso o retratei em tela para eternizar o movimento dessa pequenina ave, pairando no ar para encontrar a flor.

Assim somos, corremos, sofremos, andamos de um lado para o outro. Voamos em várias direções. Mas chega o momento que é preciso parar. Abastecer as nossas energias necessárias para poder continuar. Ai é o momento do encontro. É o momento de celebrar a divindade que existe dentro de nós.

O beija-flor, colibri ou cuitelo tem sua origem na América do Sul, de onde se espalhou para o resto do continente. Pode ser encontrado tanto nas florestas tropicais como nos desertos, montanhas e planícies, pois se adapta a todo tipo de clima. Algumas espécies vivem nas regiões frias como o Alasca, outras convivem muito bem no calor tropical. Não importa. Em qualquer recanto onde houver flores se abrindo, essa pequenina criatura é atraída pelo seu perfume para deliciar-se com seu mel.

Mas foi aqui, no Espírito Santo, onde pude conhecer, conviver e aprender a reverenciá-lo por sua beleza e traços peculiares. Mais precisamente quando visitei o município de Santa Tereza que, justamente por esse fato também é conhecida como Beija Flor do Espírito Santo.

Passeando pela cidade, vemos em quase todas as casas um recipiente com água doce, nas janelas ou nas varandas, para que esse pequeno pássaro possa alimentar-se, sem receios.

É ali que podemos, também, visitar o museu Mello Leitão, que reúne um conjunto de ambientes e edificações característicos da região. Seu valioso acervo científico de plantas e animais tem atraído a atenção de pesquisadores de diversos países. Entre suas coleções o destaque, evidentemente, é a de beija-flores, com cerca de 1.700 exemplares. São as aves símbolos do Espírito Santo.

A experiência retratada revela instantes interiores vividos. Para cada leitor, que agora me lê, fica o convite para criar uma oportunidade de ficar frente a frente com um desses exemplares, admirar o seu belo vôo e também sua parada no ar, mostrando que a vida é feita de movimentos e reflexões, mudanças, adaptações e ajustes, inspirados na necessidade que sentimos de ver a vida como um simples beija-flor.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Outono

Outono: essas folhas que tombam na água parada dos tanques e não podem sair viajando pelas correntes do mundo”... – Mário Quintana

Outono é estação de estagnação, como induz a frase do Poeta?

Não creio. O outono é uma estação de transição, de renovação, de nascimentos. É o velho abrindo espaço para o novo entrar. O céu fica mais azul, os dias mais iluminados, as cores da natureza mais definidas. As folhas das árvores vão ao chão, deixando uma sensação de renovação da vida.

Os dias e noites têm a mesma duração, porque a posição do Sol está exatamente na linha do Equador. Pouco a pouco, com o passar dos dias, o movimento de translação da Terra vai fazendo com que as noites cheguem mais cedo, sendo mais amenas e agradáveis para dormir, enquanto o amanhecer custa um pouco mais a acontecer.

Outono é a estação das frutas. Mesmo com a utilização das modernas tecnologias de cultivo, que nos permitem colher as mais diversas frutas, durante todo o ano, é, porém, no outono que abacates, caquis, bananas, carambolas, goiabas, laranjas, maçãs, melancias, maracujás, mexericas ou bergamotas, peras, pinhas ficam mais saborosas, doces e convidativas para o paladar apurado.

É também tempo de colher abóboras, alhos porós, aspargos, batatas doces, berinjelas, beterrabas, chuchus, inhames, mandiocas, mandioquinhas, milhos verdes e tomates. Para quem não tem o hábito de comer leguminosas, é uma boa hora para criar coragem e começar a fazê-lo nesta estação de mudanças.

E por que não falar das flores? Cravos, margaridas, crisântemos, cravinas, begônias e as que florescem nos dois últimos meses do outono, as tulipas, nos encantam, perfumam e enchem nossos olhos de beleza.

Outono é tempo de Páscoa, de comemorar-se o Dia das Mães, o Dia do Trabalho. É registro histórico do que acontece entre gerações: o Descobrimento do Brasil, a morte de Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira, e a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel.

É no outono, precisamente no mês de maio, mês iluminado, mês místico, que católicos comemoram do Dia de Nossa Senhora de Fátima, de Nossa Senhora da Penha e de Santa Rita de Cássia. Em maio também nasceu Joana D’Arc, santa, guerreira, mártir, lenda...

Como vivemos em um país tropical, dizemos que a mudança das estações do ano passa quase despercebida, a não ser para quem mora no Sul do Brasil. Mero engano. Durante o outono, mesmo na região sudeste, podemos perceber perfeitamente as mudanças no ar, no cheiro, no vento, no vôo das aves, na vibração da natureza.

No outono, a natureza se prepara para uma nova fase. Há um equilíbrio entre a alegria do verão e a sobriedade do inverno; o contraste entre o calor intenso do sol e as temperaturas mais baixas.

Mais do que simples folhas secas, que caem das árvores e ficam imóveis nos tanques, como lembra o Poeta, somos verdadeiras fontes renováveis, em busca de novos recursos, novas alternativas, pois no livro da vida não existe nada fixo, tudo vibra, tudo se transforma. Em pleno outono tudo acontece.