domingo, 29 de setembro de 2013

Camburi, a praia de meus olhos


Amanhecer na Praia de Camburi. Ao pintar esta paisagem, minhas lembranças viajaram no tempo.

Há cerca de trinta e cinco anos, chegávamos a Vitória, com o coração cheio de planos e esperanças. Meu marido, eu, e três pequenos, o menor com apenas alguns meses e o maior com quatro anos de idade. Não conhecíamos nada, nem ninguém no Estado. Tínhamos apenas uma  promessa de emprego e muitos sonhos. Pois bem, estamos aqui até hoje, uma vida profissional concretizada, muitas amizades duradouras, filhos criados,  muitas  experiências vividas e ainda por viver...

Foi em Jardim da Penha, um bairro banhado pelas águas tranquilas da baia de Vitória - assim como Mata de Praia e Jardim Camburi - que nos instalamos e ficamos encantados com a paisagem e a praia perto de casa, de fácil acesso:. a Praia de Camburi.

Naquele tempo Camburi era mais bucólica. Resquícios de décadas passadas, alguns  barcos de pesca ainda atracavam naquela praia, ao chegar o fim da tarde, trazendo o produto de um dia de trabalho sol-a-sol, de uma vida dura de seus tripulantes. Ainda podíamos ver algumas redes esticadas em suas areias. Logo que chegamos conseguimos adquirir algumas fotos de profissionais de renome no Estado para expô-las em  nossa sala de estar, retratando a vida em suas areias.

Enquanto íamos curtir aquele cenário passeávamos pelas calçadas, delicadamente cobertas por pedras portuguesas ao longo de seus cinco quilômetros de extensão. O fluxo de veículos era tranquilo e a sombra das árvores era um convite para repousar, tomar uma cervejinha gelada ou deixar a garotada curtir a faixa branquinha de areia ou ainda mergulhar naquelas águas ainda límpidas.

Durante três décadas, vimos muitas transformações ocorrerem naquela extensão de praia, verdadeiramente paradisíaca : o alargamento das pistas, a  construção de altos edifícios na orla, a derrubada dos antigos quiosques  para construção dos polêmicos e  atuais, a erradicação das castanheiras que foram consideradas exóticas pelos técnicos da Prefeitura (erradicação que, para mim, é uma aberração), a reforma da ponte que liga o continente à ilha de Vitória, a construção da imagem de Iemanjá, o que provoca muita polêmica entre seguidores de outras religiões. E a substituição das pedras portuguesas por um piso acimentado e entremeado por peças de granito.

O calçadão perdeu aquele ar bucólico para dar lugar à circulação de milhares de pessoas, fazendo cooper, praticando skate, andando de bicicleta, fazendo os mais variados exercícios ou caminhando, conversando com os amigos ou, simplesmente, olhando a paisagem. Um verdadeiro formigueiro em pleno horário de pico. Enfim, são muitas histórias para contar que não caberiam somente neste espaço.

Camburi hoje atrai visitantes, turistas e migrantes, de outros estados ou mesmo da região interiorana deste Espírito Santo, em busca de eventos culturais ou esportivos ou simplesmente para  aproveitar a oportunidade de jogar conversa fora ou apreciar as belezas naturais. Mas é importante dizer que todas as intervenções urbanas não chegam a tirar a beleza e o charme deste lugar que é  um dos cartões postais da cidade de Vitória. Camburi é sempre Camburi, toda majestosa, de todos os capixabas. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Pedra Azul


"No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho..." Drumond

Na estrada que liga Vitoria a Belo Horizonte, mais precisamente no município de Domingos Martins,  uma pedra imponente se destaca, chamando a atenção dos viajantes que passam pelo local: a Pedra Azul.

A Pedra Azul tem esse nome devido ao fato de que, dependendo da incidência da luz solar, a pedra pode mudar  de cor.  Em determinados momentos fica de cor azul, mas pode mudar para  verde, amarela ou ficar acinzentada. Um bom observador pode vê-la mudar de cor 36 vezes por dia.

Também é conhecida como Pedra do Lagarto por apresentar,  em uma saliência rochosa, a forma do animal que parece subir pela sua encosta.

Um passeio bonito e relaxante é fazer uma caminhada pelas trilhas do Parque Estadual de Pedra Azul, criado para proteger um conjunto de valores naturais que se situam em torno desta formação de granito e gnaisse de 1.822m de altura.

O parque está localizado em terras dos municípios de Domingos Martins e Vargem Alta e apresenta inúmeras trilhas  que permitem a contemplação da Mata Atlântica, passando por mirantes e inúmeras piscinas naturais.

Muitos ainda não conhecem ou não tiveram a oportunidade de visitar aquela região. Por isso tomei a iniciativa de fazer divulgar, através deste Blog, a tela, de minha autoria, inspirada em meus momentos de contemplação . Foi pintada a partir de uma foto que minha família e eu tiramos do local, em uma das muitas visitas que fizemos àquela pedra e ao patrimônio natural que o cerca, onde encontra-se uma reserva florestal.

Se você não sabe para onde vai programar sua próxima visita de férias, pense em incluir a Pedra Azul em seu roteiro. Esse quadro pode inspirá-lo, mas você verá que a pintura original pintada por Deus é uma obra incomparavelmente perfeita.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Resgate da Memória


"Para estar junto não é preciso estar perto, mas sim do lado de dentro."  Leonardo Da Vinci
 
A turma da oficina de pintura em tela do Centro de Convivência de Jardim da Penha, com a monitoria da artista plástica Ana Neri Morandi, está expondo, no saguão de entrada de Prefeitura de Vitória, de 26 a 30 de agosto, trabalhos  em tinta acrílica sobre tela, retratando as recordações de lugares e pessoas que marcaram a história de cada autor das obras expostas.
 
 
 
O trabalho em grupo.





Ao organizarmos o evento, nossa companheira, Zuleica Passos, fotografou as telas em exposição, fazendo uma homenagem a esta blogueira. Seguem as fotos das telas expostas:
 
 

 Residência de meus tios
 
A residência de meus tios Eraclides Coutinho e Rosa Zampiere Coutinho  era situada em Bom Destino, Município de Itaguaçu, região noroeste do Espírito Santo. Ali eles viviam com seus seis filhos.
Autora: Aidini Schaquetti


 
Igreja de São Geraldo
Igreja cujo padroeiro é São Geraldo, localizada em Bom Destino, Município de Itaguaçu, onde as famílias costumavam reunir-se para fazer suas orações, festejar e também para conversar. O carro de boi em frente, carregado de sacos de café, era guiado por meu pai, Humberto Schaquetti e um de seus filhos. Esse era um dos meios de transporte da época.
Autora: Aidini Schaquetti
 
 
 
Igreja de Mimoso do Sul – Paróquia de São José
 
"Esta Igreja me traz a lembrança da minha infância: da catequese, coroação de Maria, a primeira eucaristia, as missas, a ladeira, a gruta  e as brincadeiras  que fazia com as amigas no caminho para a Igreja."

Autora: Eliane Maria Moreira de Almeida
 


Largo da Estação

"O Beco de Seu Zeca fazia a ligação do Largo do Sossego para o Largo da Estação. Ali passei a minha infância e juventude, na cidade de Caravelas, Bahia. Ao fundo, aparece a Capela de Santa  Efigênia, construída  no século XVIII. A casa de esquina, à esquerda, pertencia ao pai de minha professora e madrinha. Lá, aos domingos, rezávamos o terço. Antes, fazíamos outra visita, tomávamos café e depois, seguíamos todos pelo Beco do Seu Zeca até a estação ferroviária e aos passeios campestres."
Autora: Zuleica Passos
 
 
                                            
 Residência da Família Schaquetti

"Nesta casa - localizada em Bom Destino, Município de Itaguaçu, região noroeste do Espírito Santo - vivi minha infância e parte da juventude, com meus pais, Humberto Schaquetti e Maria Zampieri Schaquetti, e meus sete irmãos. Guardo deste local as melhores lembranças, pois ali fazíamos muitas brincadeiras e travessuras. Pintura inspirada em uma foto de 1949."

Autora: Aidini Schaquetti



Coreto na Praça

"Nasci em Muriaé, Estado de Minas Gerais, onde vivi até os 12 anos. Minha tela foi inspirada em foto tirada na praça de minha cidade,  no início da rua do Hospital. Lembro que nessa praça costumava reunir-me com as outras crianças para brincadeiras de bandeirinha, pique-esconde e outras, nas manhãs e tardes depois da escola. "
Autora: Maria Elisa de Oliveira Morais
 

                                             
Passeio de barco
 
"Lembro-me de um passeio de barco que duas amigas e eu fizemos, saindo da antiga Praia Comprida, onde hoje é o aterro da Praça dos Namorados. Era um bonito dia de sol, no ano 1946. As duas amigas eram de Belo Horizonte. Eu estou sentada no barco, no lado esquerdo."

Autora: Ângela Rodrigues Amorim


 
Meu irmão e eu

"Meu irmão, com dois anos, e eu, com quatro anos, nos arrumamos, colocamos as nossas melhores roupas para tirar a foto. O dia de tirar fotografia era uma verdadeira festa! Pintei também a casa onde morávamos e onde nasci, em Barbados, Município de Colatina."

Autora: Ana Helea Baião
 


 

 Casa de família

"Esta é a casa, situada em Cabeceira das Araras, no interior de São Gabriel da Palha, onde vivi dos oito aos 15 anos. Lá passei parte da minha infância e adolescência, os melhores anos de minha vida. Fomos para lá em 1955. Estudava, ajudava mamãe nos trabalhos de casa, prendia os bezerros, tratava das galinhas, dos porcos, andava a cavalo, brincava com os primos, irmãos e vizinhos."
Autora: Maria Marta Bunizol Fraga

 


Sonhos.. .família, memória

"Este lugar se chama Montevidéo, no Município de Alegre, Espírito Santo. Lá vivi os meus primeiros meses de vida, de 1947 a 1949,  com uma grande família de 14 irmãos da união de duas famílias: Dalvi e Meneguete. Depois mudamos para Vitória, pois meu pai era homem guerreiro e gostaria de ter filhos letrados."

Autora: Maria da Penha Dalvi



Casas da minha família

"A primeira casa é a dos meus avós maternos, situada no Município de Muniz Freire, no local chamado Alto Amorim. A segunda era dos meus avós paternos. Ficava na Cabeceira das Araras, no Município de São Gabriel da Palha. A terceira foi construída pelo meu pai, no Córrego Guarani, em São Gabriel da Palha. Na quarta casa, em São Gabriel da Palha, residi dos 16 anos até casar. Nesses lugares vivi minha infância e juventude, convivendo com meus avós e  brincando com os primos."

Autora: Maria Marta Bunizol Fraga



Farol de Santa Luzia

"Há cinquenta anos, meus amigos e eu costumávamos praticar pesca de mergulho nas pedras do farol.  Na época, pouca gente se aventurava a pescar ali, pois o local das pedras era muito íngreme e o mar muito violento. Caminhávamos desde a Praia da Sereia para chegar até lá e vivenciar essas aventuras."

Autor: Décio Dessaune


 
Passeio nas dunas

"Minha família costuma passar as férias de verão na praia Arroio do Sal, no Rio Grande do Sul, tradição que se renova desde minha infância. Desse cenário guardo a lembrança dos passeios que fazíamos pela orla marítima, como aconteceu em fevereiro de 1962, quando andávamos por montanhas de areia, subindo e descendo, conforme registrou minha mãe em foto onde aparecem meu pai e seus quatro filhos, retratados neste quadro."

Autora: Célia Maria


 
Fazenda Renascer

"Fazenda Renascer, propriedade de minha família, onde vivi todo o meu tempo de solteira. Até hoje conservamos a propriedade, procurando manter as mesmas características da época de meus pais, reunindo sempre toda a família como nos velhos tempos".

Autora: Juraci Alves Pirola
 


Fazenda da Armada

"Esta é a casa da Fazenda da Armada, propriedade de meu bisavô paterno, localizada no Município de Canguçu, Rio Grande do Sul. Baseada em uma foto tirada no ano de 1932, quando, na frente da casa, meu bisavô, minha avó, meu pai (então com 16 anos) e outros familiares  conversavam com alguns visitantes. Cresci ouvindo minha avó e meu pai contarem os episódios passados naquela fazenda. Este quadro é uma homenagem que presto a quem antes de mim já fazia a minha história."

Autora: Célia Maria


 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Primeira exposição Oradas do Espírito Santo


O grupo que está desenvolvendo  o Projeto Oradas do Espirito Santo, Ana Heléa Baião, Aidini Schaquetti, Zeth Aguiar, Célia Sanchotene e Zuleica Passos, foi convidado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Vila Velha do Espírito Santo para participar do workshop "Fé e razão caminhando juntas", no dia 7 de agosto de 2013. Para compor o tema os organizadores do evento realizaram, em espaço contíguo, uma exposição de arquitetura sacra. 

De uma proposta de pintar vinte e cinco telas, o grupo já elaborou 12 telas que foram expostas nesse evento.

  Heléa, Aidini,Ana Zeth, Célia e Zuleica mostram seus trabalhos no evento "Fé e razão caminhando juntas".


 Célia e a sua Capela de São Ciro e a Capela de Nossa Senhora da Penha, de Aidini.






                                           Novamente a turma posando junta.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Símbolos


"Em muitos dias de ócio lamentei o tempo perdido. Mas ele não foi de todo perdido, senhor. Guardaste em tuas mãos cada instante de minha vida. Escondido no coração das coisas, tu estás alimentando as sementes para que sejam rebentos, os botões para que sejam  flores e amadurecendo as flores  para que sejam frutos. Eu dormi cansado no meu leito indolente, julgando que todo trabalho tivesse cessado. Acordei de manhã e encontrei repleto de milagres de flores o meu jardim". Tagore

 
Uma nova experiência sempre é positiva. Há muito estava pensando em fazer uma pintura abstrata, uma criação exclusivamente minha, sem influências externas ou modelos .Uma experiência diferente.  Algo que saísse de meu interior. Mas o que pintar?

Em um mundo em plena ebulição, onde os protestos e a violência espocam por todos os cantos do País, um quadro cheio de simbolismos me pareceu uma boa pedida. Um quadro que representasse  a dualidade, o ritmo, o conhecimento,  o infinito da existência.

Pintar o fundo da tela com a alegria e a energia do amarelo foi o primeiro passo. Pouco a pouco foram surgindo as representações da vida que roda, do todo que vibra, da paz entre os povos, da paz interior, o olhar que tudo observa,  os traços marcantes do todo em cada um de nós. 

Os pares de opostos apontam a dinâmica do existir e caminham  juntos. Em tudo há um pouco de tudo. Como é em cima é embaixo, o branco e o preto, a noite e o dia, o micro e o macro, a paz e a guerra, o amor e o ódio, o caos e o equilíbrio, o dormir e o despertar, o exterior e o interior, a realidade e o sonho ...

É um constante fluir e refluir. Na causa está o efeito. E a descoberta está em você.
 

domingo, 7 de julho de 2013

Oradas do Espírito Santo


"Vamos pintar as capelas do Espírito Santo!" Esse desafio foi lançado pela artista plástica Zeth Aguiar, há mais ou menos um ano, a um grupo de quatro de suas alunas, envolvidas nas artes de manejar pincéis e tintas sobre telas. Um tanto assustadas, três amigas e eu topamos a parada, iniciando a caminhada rumo à implementação do projeto Oradas do Espírito Santo, Os Caminhos da Fé em Solo Capixaba. 

Como o Espírito Santo é um estado onde a religiosidade está presente até no nome,  há incontáveis igrejas e pequenas capelas espalhadas por todo o território capixaba. Não foi difícil, assim, escolher aquelas que passaram a ser objeto de retratação em tela, haja visto que a religião católica foi introduzida no momento da colonização da capitania pelos padres jesuítas e frades franciscanos e permeia toda a historiografia capixaba.

O grupo participante selecionou, preliminarmente, 25 capelas a serem pintadas, que estão sendo visitadas para levantamentos necessários, além de pesquisas em revistas, livros e  jornais ampliarem as fontes secundárias de informação, complementáveis com entrevistas a amigos e parentes. Registros fotográficos in loco também devem acontecer, tudo isso para identificar peculiaridades e características arquitetônicas a serem retratadas nos seus melhores ângulos. E, feito isso, mãos à obra.

Algumas dessas capelas estão localizadas em propriedades particulares e foram construídas para pagar promessas de curas e bênçãos recebidas por seus moradores. Suas historias são emociantes e podem render belos depoimentos, também incluíveis na edição digital. 

Durante esse período, algumas telas já foram produzidas, conforme fotos abaixo, à medida que cada uma das autoras foram se identificando com exemplares do rico patrimônio retratado.


Capela da Pedra de Cantagalo.
Burarama. Cachoeiro de Itapemirim . ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Zeth Aguiar. 2013 

Capela de Santa Luzia.
Laranja da Terra. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Aidini G. Schaquetti. 2013 

Capela de Santa Luzia.
Sitio Família Silva Pinto. Guarapari.ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Ana Helea Baião. 2013

Capela de Santa Maria do Engano.
Alfredo Chaves. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Zuleika Passos. 2013

Capela de Santo Antonio.
Família Varejão. Fradinhos. Vitória. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Ana Helea Baião. 2013

Capela de São Francisco.
Complexo do Convento da Penha. Vila Velha. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Aidini Schaquetti. 2013

Capela de Sto Antonio.
Ibiraçu. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Zeth Aguiar. 2013
Capela de Todos os Santos.
Parque da Gruta da Onça. Vitória. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Célia Sanchotene . 2013

Capela Tre Fiori.
Pedra Azul. Domingos Martins. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Zeth Aguiar. 2013


 Igreja de Nossa Senhora da Penha.
Santa Tereza. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Aidini G. Schaquetti. 2013

Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes.
Ponta da Fruta.Vila Velha. ES.
Acrílica s/ tela. 0,50x0,70. Zuleika Passos. 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Questão de idade

A alma não tem idade. Ela é eterna. Pode ir se modificando, se desenvolvendo, se expandindo. Pode ter aprendido muitas coisas novas com as experiências vividas.  Mas, creio eu, jamais se encolhe, murcha ou se desintegra. Foram esses pensamentos que povoaram minha mente, quando, outro dia, me aconteceu um fato inesperado.

Estava eu caminhando, tranquilamente, pelas ruas do bairro onde moro, no final de uma tarde amena de outono, quando passou por mim um grupo de pré-adolescentes, cerca de uns dez, na faixa etária entre seus 11 e 13 anos.

Trajando uniformes característicos de uma escola conhecida, vinham fazendo algazarra, como é natural em meninos daquela idade. No meio da conversa, entre eles, diziam vários palavrões e trocavam empurrões e socos, em meio a risadas. Tudo em  tom de brincadeira. Na opinião deles, é claro.

Ao passarem por dois rapazes que lavavam os carros por ali, ouviram o seguinte comentário: "Oh, meninos, respeitem a senhora que está passando. Vocês estão saindo da escola, não aprenderam a ter educação?"

Ouvindo isso, apressei meus passos. Não queria envolver-me em confusão, pois achei que não tinha nada a ver com a história.

Mais adiante, todos nós nos encontramos novamente. Pude notar que os meninos encheram-se de coragem  e, de longe, gritaram mais palavrões para os dois homens que, na certa, já nem os escutavam mais, envolvidos em  defender o seu pão daquele dia.

Chegando mais perto, pude escutar um dos meninos dizer para os outros: " Qual é a desses caras, xingarem a gente, só porque estava passando uma velhinha!"

Quase cai sentada. Olhei para os lados, não vi mais ninguém. Entregue a meus pensamentos, custei a me perguntar: será que a velhinha era eu?

quinta-feira, 28 de março de 2013

O Casarão: novas impressões!


"Quem quiser saber quem sou olha para o céu azul e grita junto comigo: Viva o Rio Grande do Sul... Querência amada, de encantos mil, disposta a tudo pelo Brasil!"

Esta casa de fazenda, do interior do Rio Grande do Sul, já pintei há mais ou menos um ano. A pintura foi baseada em uma foto, tirada no ano de 1932, segundo anotação feita no verso, com a letra de meu pai. Como o quadro fez sucesso em família, minha irmã trouxe-me uma outra foto do mesmo casarão, também tirada naquele mesmo ano, porém  retratando outra situação.
 
Olhando a foto, deixei minha imaginação criar asas. Comecei a imaginar o que poderia estar acontecendo naquele instantâneo de uma realidade, registrado à eternidade.

Poderia ser uma tarde morna  de verão. A familia, como era costume, estava reunida em frente à casa para "tomar uma fresca" e "jogar conversa fora". A presença do fotógrafo era motivo de comemoração e de celebração, motivo para colocar roupa nova para causar a melhor impressão.
 
O carro, recentemente comprado, talvez tenha sido colocado estrategicamente em primeiro plano para demonstrar um certo ar de modernidade e opulência, segundo os padrões da época.
 
A foto também mostra personagens e seus cavalos, talvez, vizinhos, que tenham aproveitado o momento de visita para fazer a sua pose, explorando a paciência do fotógrafo que, certamente, aparecia uma ou outra vez por aquelas paragens.
 
Até os patos correram para serem fotografados e, com seus grasnados histéricos, interromperam a animada conversa para marcarem as suas presenças.. Já mais tímidas, as crianças  contentavam-se em espiar os acontecimentos através da porta ou da janela.
 
Imagino que, dentro da casa, alguém preparava um delicioso café para servir aos convidados, acompanhado de um  apetituoso bolo de milho. Logo todos seriam chamados para sentarem-se à mesa farta e saborearem também um  pão, recém saído do forno e as "chimias " de abóbora, figo ou pêssego, produzidas na própria fazenda, conforme a tradição.
 
Enquanto minha imaginação corria solta, as tintas foram escorrendo pelos pinceis diretamente na tela e de dentro de mim nascia a certeza de que momentos como esses são dignos de serem registrados para serem perpetuados ao longo de muitas  gerações. O passado se renova e está sempre presente.
  

quinta-feira, 21 de março de 2013

Simplesmente Francisco

Duas semanas depois da renúncia do Papa Bento XVI, o Conclave - reunião fechada de 115 cardeais - elegeu o novo mandatário da Igreja Católica: o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio  que  escolheu o nome de Francisco para liderar os católicos.

Muitos teólogos, estudiosos., religiosos, jornalistas tentaram explicar a escolha do nome, o que deu origem a muitas especulações. 

Seria o nome escolhido inspirado em São Francisco de Assis,  identificado  com a paz; o perdão; o amor, a compaixão pelos pobres, doentes e oprimidos  e o estilo simples de vida adotado pelo santo italiano? 

Ou, quem sabe, teria o Santo Padre  o desejo de homenagear São Francisco Xavier, um dos fundadores da ordem dos jesuítas que esteve em vários cantos do mundo, divulgando incansavelmente o cristianismo e evangelizando povos da África, Índia, Japão e China , procurando fortalecer o catolicismo em uma época em que a Igreja enfrentava sérios desafios?.

Também pode ter entrado na lista São Francisco de Paula, conhecido como o eremita da caridade, por seu desprezo pelos valores transitórios da vida e dedicação  integral  ao socorro espiritual  do próximo?

O Papa pode também ter lembrado de São Francisco de Borja, aquele que ao ficar viúvo ajustou as contas  com os seus assuntos mundanos, renunciou a seus títulos de nobreza e preferiu viver como um pregador itinerante?

Ou, ainda, São Francisco  de Sales, patrono dos salesianos, que dedicou sua vida à oração e à caridade, santo que ficou famoso por suas obras escritas, recebendo o título de patrono dos escritores católicos?

Qualquer um desses nomes poderia ter inspirado o novo Papa. Ou todos eles reunidos em um só espírito: o de intensificar os ensinamentos de Cristo  e o amor pelo próximo. 

Creio que houve, por parte de Sua Santidade,  a vontade  de abarcar as lições de vida  de todos esses grandes  seres e apontar para nós o caminho a seguir, não esquecendo também de tantos franciscos anônimos que transitam nas estradas da vida. 

Promover a paz, exercitar o perdão, vivenciar a simplicidade e a compaixão, superar desafios, levar a evangelização, viver a caridade, orar constantemente, reconstruir o que se perdeu,  dar atenção aos povos mais longínquos. Sejam esses ou tantos outros  objetivos, certamente estão  bem traçados em seu coração amoroso. 

Simples assim.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Fevereiro tem carnaval

Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza... Em fevereiro, tem Carnaval...


Nasci no més de fevereiro, sob o signo de aquário. Mês de verão pleno no Hemisfério Sul, principalmente no Brasil, país tropical. 

Fevereiro é um mês diferente: tem 28 dias e, de quatro em quatro anos, 29. Isso porque,  ao ajustar o calendário, em 1582, o Papa Gregório VIII  escolheu o mês de  fevereiro  para ser o sacrificado. Talvez por ser februs , nome  do deus etrusco da morte. Assim, o mês  teria pouca influência e  terminaria logo.

Para nós, que aqui vivemos, o mês torna-se ainda mais curto porque tem quatro de seus dias dedicados ao Carnaval, quando tudo pára. É como se tudo ficasse suspenso, no ar. Decisões são adiadas. Outros eventos são desprogramados. 

São dias destinados à alegria e à descontração. Porém,  com o passar dos anos, em muitas cidades, o Carnaval  transformou-se em um evento gigantesco, realizado para turista ver, onde o interesse maior é o comercial. Tornou-se uma festa de Baco, onde homens e  mulheres quase nus exibem seus corpos, num chamado ao prazer momentâneo.         

Nas cidades grandes,  às vésperas desses dias dedicados ao rei Momo, as pessoas ficam enlouquecidas. O trânsito caótico reflete a obrigação que alguns têm em mergulhar na folia e demonstrar  uma  alegria muitas vezes falsa. Outros, pelo contrário, querem  fugir do barulho e da confusão. Para isso refugiam-se em seus lares ou em outras tantas localidades, onde ainda é preservado o ar bucólico e as brincadeiras sadias que divertem crianças, jovens e adultos.

Mas nem tudo gira em torno do Carnaval. Fevereiro é o mês da descontração, de sentir a liberdade de andar de pés descalços e vestir roupas leves, de  ir à praia, de sentir na pele o calor do sol , aproveitando os dias mais claros,  luminosos, quentes e longos. É o mês em que termina o horário de verão, tão apreciado por uns e odiado por outros.

Mesmo sendo o mês de temperaturas mais elevadas, é o mês de início das aulas. Estudantes dirigem-se para as escolas carregando suas mochilas pesadas, recheadas de material escolar que talvez nem consigam usar durante todo o ano escolar. 

Sinceramente, fico com dó! Poderiam aproveitar melhor o verão brincando nas praias, rios, lagoas, piscinas, matas, e em todos os lugares em que a natureza se faz  presente. Lembro-me que, em minha infância e juventude, fevereiro era o mês mais aguardado, pois representava  o  apogeu  das férias escolares que terminavam somente no dia primeiro  de março.

Mas fevereiro não é somente um mês de descontração. É o mês da transformação, da  morte do velho para nascer o novo. Em latim, é o mês da purificação. É tempo de repensar atitudes, antigos conceitos e velhos hábitos.

Foi o que fez  o Papa Bento XVI ao anunciar a sua renúncia na véspera da quarta-feira de Cinzas, surpreendendo o mundo. Em seu discurso de despedida, criticou a existência de divisões do corpo eclesiástico  que, segundo ele, "desfiguram a face da Igreja e minam a sua unidade". Pretende, depois disso, recolher-se para viver em paz os dias que lhe restam.

Em meio a essa  notícia surpreendente, fevereiro 2013 inovou. Um susto aconteceu na Rússia, onde um meteorito caiu, provocando o tremor de prédios e estilhaçando vidraças e ferindo 1200 pessoas.  Aqui no Brasil, as chuvas fortes causaram prejuízos em São Paulo e nos estados do Sul. Só na capital paulista caíram  1958 raios, o que não acontecia há dez anos com tanta intensidade. Um meteoro passou a 28000 km da Terra, distancia que, em se tratando de Universo, não é tão grande assim, mas não provocou estragos.... 

O fato de ter nascido em fevereiro me faz crer que os dias passam mais depressa, porém com maior intensidade. Consola-me o fato de ser aquariana que desponta para uma vida, cujo ano mal está começando, hora de fazer as contas, fazer balanços e iniciar os desafios que me fazem sentir plena e aberta para o novo, que está se prenunciando a chegar, neste início de 2013, neste eterno devenir.  





terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Cenas de mar

                          "O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito..."  

Assim cantava o poeta, dedilhando a música lentamente em seu violão.

Desde os tempos mais remotos, o mar sempre foi símbolo das indagações humanas, de seus sonhos, de suas descobertas, de seus medos e desejos.

Muitos, ao longo da história, lançaram-se ao mar sem saber o que os esperava do outro lado. Que mundos novos descobriram, que aventuras vivenciaram? Que mistérios essas águas guardam em suas profundezas? Que mudanças aconteceram no inconsciente das mais variadas pessoas, causadas pelas águas calmas ou agitadas do mar? Quantos tiram o seu próprio sustento das águas do mar? 

Quantas histórias a mente humana criou e se perpetuaram através de gerações? Sereias, piratas, tubarões, navios, naufrágios, aventureiros ou estranhas criaturas marinhas de sangue frio povoaram a imaginação de crianças e adultos por todos os tempos. 

Baía de Vitória  - tinta acrílica sobre tela
                                                       Baía de Vitoria - tinta acrílica sobre tela

Inicio as publicações deste ano de 2013, reportando-me a dois quadros, de minha autoria, que retratam a beleza da baía de Vitória. São cenas vistas do Clube Ítalo Brasileiro, situado na ponta da Ilha do Boi, que hoje está incorporada à ilha de Vitória por aterro. 

A primeira pintura mostra, pelo lado norte,  uma pequena ilha e bem ao fundo a ponta de Tubarão, onde está localizado o Porto de Tubarão. Pelo lado Sul, a segunda paisagem nos apresenta a ponte que liga Vitória ao município de Vila Velha (Terceira Ponte), o Morro do Moreno e o morro onde está situado o famoso Convento da Penha, parada obrigatória para aqueles que visitam o Espírito Santo.

Mas o que realmente me encantou e levou-me a pintar este belo visual foi o mar. O mar batendo nas pedras, formando espumas brancas como se fossem rendas tecidas para enfeitá-lo. O balanço das ondas que leva a meditar sobre a beleza da vida.e a repensar sobre as vivências que contam a história da humanidade através dos tempos.