quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Gosto pela leitura


“... não é o leitor que descobre o seu poeta, mas o poeta que descobre o seu leitor.” Mário Quintana


Desde pequena sempre gostei de livros. Vivi em uma casa onde se respirava livros. Meu pai era um leitor contumaz e, minha mãe, professora, sempre buscava nos livros idéias para suas aulas. Então, não foi difícil seguir a tradição. Por isso, quando meus filhos eram pequenos, meu marido e eu sempre procuramos levá-los a ingressar no mundo da leitura, seja comprando-lhes livros de acordo com seu desenvolvimento, seja contando-lhes histórias e estórias. Enfim, plantamos as sementes, cultivá-las é com eles.

Os livros são um verdadeiro fascínio para mim. Gosto de estar na presença de um deles, mesmo que seja para folheá-lo simplesmente ou para sentir o cheiro de papel misturado com a tinta. Sempre quis desvendar seus segredos. Ao lê-los viajei por mundos antes desconhecidos e penetrei no âmago de inúmeros personagens que realmente viveram ou que apenas foram frutos da imaginação dos autores. 

Atualmente, gosto de vasculhar pela internet, procurar novidades e inteirar-me dos fatos que acontecem pelo mundo. Porém, apesar de todas as novidades tecnológicas, ainda cultivo o hábito de sentir entre os dedos a textura do papel. E também é por isso que aprecio ler o jornal diariamente enquanto tomo o café da manhã ou depois do almoço, recostada nas almofadas. Esse hábito, diga-se de passagem, adquiri depois que comecei a fazer parte da empresa “estão de bem com a vida”, os aposentados.

Não acho graça em ler um livro, por exemplo, no formato digital. Falta a intimidade. Parar entre um parágrafo e outro, refletir sobre o que está ali diante dos olhos.  Virar as páginas com lentidão ou rapidamente para desvendar as surpresas que as páginas seguintes reservam. 


Como é prazeroso saborear, linha por linha, para fazer render o máximo possível e desfrutar do final que o autor nos apresenta , quer estejamos de acordo ou não.

Gosto de livrarias. Não vou a um shopping sem dar uma passadinha em uma delas. Delicio-me em percorrer as prateleiras, demorando-me nas sessões, para repassar títulos, resumos, ilustrações e fotos. Olho tudo. Desde os lançamentos infantis até os de meus autores preferidos.
Dizem os estudiosos que ler é acima de tudo compreender. Nada de leitura dinâmica. Não basta simplesmente passar os olhos. Devemos estabelecer empatias com os conteúdos, que eles retratam, onde o nosso papel de leitor é levar para dentro dele toda a nossa vivência pessoal, emoções, expectativas, crenças. É assim que conseguimos ser tocados pela leitura. Como disse Paulo Freire, é preciso que a leitura seja um ato de amor.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Vida & Morte

“... pois, o que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?

Neste dia de Finados veio-me à mente essa frase de Gibran Kalil Gibran. Posso imaginar a liberdade que sente aquele que se desprende da matéria e integra-se plenamente ao Todo. Para mim a morte é isso. É o encontro com o infinito.

Não pretendo aqui escrever sobre coisas tristes e nem chorar por aqueles que se foram. Pelo contrário, vou festejar a vida. Vou festejar a vida daqueles que já partiram e nos deixaram lembranças e exemplos que guardamos no coração.

Prefiro seguir na contramão dos costumes do Ocidente e caminhar para um sentido mais abrangente, assim como os orientais, que acreditam ser a morte algo natural. Pois, como diz Gibran, a vida e a morte são uma e mesma coisa. Assim como o rio e o mar são uma e a mesma coisa.

Minhas lembranças de infância guardam este contraste. Naqueles tempos, não se podia ouvir música, pois o dois de novembro era um dia reservado ao recolhimento. As rádios tocavam somente músicas sacras ou clássicas. Ficava no ar uma tristeza inexplicável. Nós, crianças, não podíamos fazer gritarias nas brincadeiras. Tudo isso em respeito aos mortos. O dia parecia mais pesado. Até hoje nunca entendi aquilo direito.

Mas hoje tudo mudou e este dia, para muitos, passou a ser só mais um, mas um especial por ser feriado, onde se pode aproveitar a praia, beber uma cerveja com os amigos ou ficar em uma roda de samba curtindo a batucada. Para outros viver esse dia é seguir a tradição, e chorar os seus falecidos ou esperar a sua vez. É dia de levar flores ao cemitério ou mandar rezar uma missa.

Nem uma coisa nem outra.

Afinal, morremos e nascemos a cada dia. E assim vamos percorrendo ciclos, superando etapas, constituindo e desfazendo relacionamentos, alimentando sonhos e confrontando realidades, revendo atitudes, aperfeiçoando maneiras de operar no mundo, sempre em busca de superarmos nossos limites. Ciclos e etapas.

A vida pode ser comparada a um contínuo desfilar de mortes. Começa pela partida do bebê deixando o aconchego do útero materno para enfrentar a realidade da existência física. A infância deve morrer e dar lugar à adolescência. A juventude, embora com esforço para mantê-la com exercícios, medicamentos, cosméticos ou cirurgias, um dia terá de morrer dando lugar à maturidade da meia idade. E, em seu prolongamento, o grand finale indicando que é hora de voltar para onde viemos. Para onde? Entre o mito e a realidade, haveremos de fixar os momentos infinitos sempre no presente, para, enquanto estivermos aqui, termos consciência da totalidade.

E, parafraseando Gibran, podemos dizer que, se quisermos conhecer o segredo da morte, só podemos descobri-lo se o procurarmos no coração da vida.