domingo, 20 de março de 2011

Mãe e Filha

... “Se quiseres compreender-me

Vem debruçar-te sobre a minha alma de África,

Nos gemidos dos negros no cais

Nos batuques frenéticos do muchopes

Na rebeldia dos machanganas

Na estranha melodia se evolando

Duma canção nativa noite dentro

E nada mais me perguntes,

Se é que me queres conhecer...

Que não sou mais que um búzio de carne

Onde a revolta de África congelou

Seu grito inchado de esperança”.

Noemia de Sousa - Nasceu em Catembe, Moçambique, em 1926. Faleceu em Cascais, Portugal, em 2002.

Pintei este quadro para, junto com os trabalhos de outras colegas do Curso de Pintura, decorar a festa de confraternização de final do ano 2010 do Centro de Convivência de Jardim da Penha, mantido pela Prefeitura Municipal de Vitória, ES. “África” foi o tema da ocasião. Uma homenagem que prestamos a este continente, de infinita diversidade cultural, étnica e política.

Quando a professora de Artes anunciou o tema, pensei; "o que vou pintar diante de um continente tão rico de colorido, música, crença, sons; tão cheio de movimento, suor, lágrimas, sorrisos... e por que não dizer repleto de muito sofrimento?"

Logo me inspirei na mulher africana. Mulher que, ao longo dos anos, tem enfrentado uma luta gigantesca para se afirmar como ser humano. Mulher que luta contra a opressão colonial, contra a fome e a miséria, exigindo o direito de criar seus filhos com dignidade. E que, muitas vezes, é obrigada a se deslocar de uma terra para outra à procura de sobrevivência ou fugindo das guerras civis que explodem em vários paises daquele continente.

É sabido que inúmeros fatores inibem o incremento econômico e cultural do continente africano e afetam particularmente o desenvolvimento das mulheres africanas como seres humanos íntegros. Destaco aqui a exclusão social, a violência familiar e cultural, a falta de acesso à instrução, a interdição do direito de voto e de propriedade, a excisão (terrível mutilação genital feminina), a violação, o apedrejamento e tantos outros que nem me atrevo a enumerar.

Mas há muitas mulheres africanas que lutam para conseguir modificar os errados conceitos impostos por opressores, investidos de poder que ignoram os direitos das mulheres. Apesar das inúmeras dificuldades, elas não perdem a alegria e a esperança de alcançar uma sociedade mais justa.

Por isso retrato Mãe e Filha africanas que olham para a frente, vislumbrando, quem sabe um futuro melhor, quando resolvermos definitivamente nos debruçarmos sobre a alma da África.

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2 comentários:

  1. Lindo quadro, lindo poema e lindo texto.
    Bjs

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  2. Minha Amiga,
    Estou achando tudo muito lindo. Suas matérias, ou crônicas são muito inspiradas.
    Parabéns pelos trabalhos postados aqui e pelo seu espaço muito bem utilizado.
    Abração

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