domingo, 19 de dezembro de 2010

De pai para filha ou de filha para pai

“Até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos com o Grêmio onde o Grêmio estiver...”

Os versos do Hino do Grêmio Futebol Porto Alegrense, do compositor Lupicínio Rodrigues, traduzem o sentimento dos gremistas que não medem esforços para acompanhar e incentivar o seu time do coração.

Meu pai, que era um gremista autêntico, não fugia à regra. Nos domingos de sol, dia de jogo, a preparação para ir ao estádio Olímpico torcer, começava cedo. O almoço, preparado com capricho pela minha mãe, não podia atrasar. Depois, era colocar uma roupa confortável, o boné preferido (para não queimar a careca), pegar uma almofada bem fofinha para sentar e, é claro, não esquecer a bandeira.

Léo, o marido de minha prima Ione, também um super gremista, passava lá em casa, buzinava e gritava lá do portão: “Tá pronto Boticário? Vamos logo!” Não era preciso chamar duas vezes. Na hora marcada, meu pai – que valorizava muito a pontualidade e a palavra dada - já estava esperando pronto. E lá iam eles. Levavam também os dois guris, meu irmão e meu primo, que desde pequenos iam aprendendo a torcer pelo tricolor gaúcho.

Cresci vendo essa cena. Da janela, minhas irmãs e eu acompanhávamos a saída, com uma pontinha de inveja. Na época, as meninas não iam ao estádio, isso era coisa para homens. As mulheres ainda não haviam queimado os soutiens em praça pública...

À tardinha, quando voltavam, observávamos, curiosas, a fisionomia deles. Se as caras estavam fechadas, já sabíamos: o Grêmio havia perdido ou empatado. Se os sorrisos chegavam na frente, era sinal de vitória, A alegria contagiava. “E aí, pai, como foi? Conta todos os detalhes”.Ouvindo as histórias e incentivados por seu entusiasmo, fomos aprendendo a torcer e a sermos gremistas.

O engraçado era quando Léo contava as peripécias de meu pai durante os jogos. Nos Grenais, então, morríamos de medo de ele arranjar discussão com algum colorado. Porque ninguém podia falar mal do Grêmio.

Uma vez, contaram que ele queria brigar com um torcedor do Inter de quase dois metros de altura. Segundo testemunhas o cara era um verdadeiro armário. Mas para o bem de todos e a felicidade geral da nação tricolor a discussão não deu em nada. Quem conheceu meu pai sabe que ele era invocado, aliás, como todo baixinho e magrinho. Mas, com muito jeito, ele sempre acabava se livrando de maiores problemas.

O orgulho pelo Grêmio não era pouco. O estádio Olímpico havia sido inaugurado há poucos anos (1954) e o Grêmio vinha vivenciando um período áureo: 12 campeonatos em 13 disputados: o Pentacampeonato Gaúcho e Metropolitano de Futebol Profissional de 1956/57/58/59/60 e o Heptacampeonato Gaúcho de 1962/63/64/65/66/67/68, tornando-se o primeiro time, no Rio Grande do Sul a obter este título.

De lá pra cá, foi crescendo a torcida de toda a família pelo Grêmio. Pena que meu pai não chegou a ver as conquistas da Taça Libertadores (1983 e 1995) e do Campeonato Mundial (1983) e tantas outras taças levantadas.

Mas como tudo na vida, o sofrimento também faz parte da história de um gremista. Um exemplo foi a inesquecível partida da final da segundona em 2005, a famosa Batalha dos Aflitos, em Recife, onde o Grêmio conquistou o título, na partida contra o Náutico com sete jogadores em campo. Foi sensacional.

E o que dizer do campeonato brasileiro deste ano de 2010, quando o Grêmio estava em penúltimo lugar e chegou ao final em quarto lugar ,com a melhor campanha do segundo turno e o goleador do campeonato: Jonas. Só o Grêmio mesmo consegue essas façanhas.

Aprendi com meu pai que ser gremista não é simplesmente torcer por um time. É acreditar. É ter força para superar as dificuldades e encarar as derrotas como um ensinamento. É saber que muitas vezes as conquistas são conseguidas com muito esforço e sacrifícios e que o momento sublime da vitória sempre chega. E quando chega, é só correr para o abraço da vida e gritar ao mundo que somos imortais.

2 comentários:

  1. E que venha o Ronaldinho, novamente...

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  2. Célia achei tudo aqui maravilhoso. Muito bom, muita cultura, além dos belos quadros que, muitos deles, vi você pintando.
    Parabéns.
    Saavedra Valentim
    www.saavedravalentim.com

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