domingo, 8 de agosto de 2010

De fantasmas e de fantasias

Era uma noite quente de verão. Todos dormiam em casa procurando usufruir ao máximo a leve brisa que entrava pelas janelas. Dormíamos as três meninas no mesmo quarto, cada uma em sua cama, bem confortáveis e seguras. De repente ouviu-se um grito na madrugada: “Tem uma mulher mexendo no guarda-roupa da vó”.

A família inteira acordou assustada, pois a avó tinha viajado e, logicamente, não estava no quarto. Meu pai levantou-se apreensivo, calçou as chinelas, e correu para o quarto em questão. Não encontrando ninguém, dali desceu as escadas e, acendendo as luzes, fez a vistoria na casa inteira. Olhou a rua, tudo tranqüilo. Nada que indicasse arrombamento ou algo parecido. A vizinhança estava toda em silêncio. Nenhum cachorro latia.

Minha mãe, ainda sonolenta, tentava consolar as três filhas que, de olhos arregalados, temiam voltar para suas camas. “Não há ninguém aqui, minha filha”, dizia meu pai com seu sorriso amoroso. “Eu vi, sim, pai”, afirmava minha irmã mais nova, com a experiência de seus três anos de idade. Ela havia levantado para ir ao banheiro e, ao passar em frente à porta do quarto da avó, enxergou a tal mulher, a qual descrevia com detalhes. As crianças menores possuem uma sensibilidade espiritual muito grande e existem relatos que comprovam esta afirmação. Mas meus pais não pensavam nisso naquele momento. Queriam acalmar as filhas e voltar a dormir, uma vez que, vistoriada a casa, nada havia sido encontrado. Mas a rebordosa já estava armada.

Manifestando nossa sensibilidade infantil, não nos conformávamos com as explicações de ordem material dada por nossos pais e ficamos intrigadas, abrindo a possibilidade de que algo mais realmente poderia existir ali. Ainda permanecemos um bom tempo exigindo a atenção dos pais, até que, finalmente, o cansaço foi mais forte e voltamos a dormir. No outro dia, tudo voltou ao normal.

Anos depois, me deparo com relatos semelhantes de meus filhos que afirmavam, com esta mesma idade, ver vultos subindo as escadas de nossa casa ou perto de suas camas.

Encarei esses fatos com naturalidade. Segundo psicólogos as crianças com menos de sete anos não vêem nada de anormal nessas experiências e eu também.

Alguns pais costumam intimidar ou inibir esses relatos. Em conseqüência, muitos problemas interiores podem surgir. É assim que a criança passa a acreditar que nem tudo é possível, colocando um freio em todas as suas possibilidades.

Já outros pais, com mentes mais abertas, não descartam esses fenômenos e, portanto, não chegam a influenciar negativamente seus filhos em relação às questões tratadas como imaginárias.

Para essas crianças tudo é possível. Tudo faz parte de sua realidade. Em tenra idade, ainda não houve tempo de serem influenciadas pelos adultos, não foram condicionadas sobre o que é ou não é real. Foi-lhes permitido serem elas mesmas, estarem abertas a novas experiências. E, em sua caminhada pela vida, com certeza tornam-se, mais tarde, pessoas criativas e prontas para enfrentarem, com confiança e sabedoria, tudo aquilo que se esconde sob os véus do indecifrável ou se encontre em âmbito do seu inconsciente.

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