terça-feira, 6 de julho de 2010

Quero um gatinho para me fazer companhia

Nunca gostei muito de gatos. Apreciava mais os cães. Sempre convivi com cães em casa desde criança. Quando meus filhos pequenos quiseram ter um animalzinho de estimação, escolheram a Lucy, uma border colly super inteligente. Depois chegou a Déa, uma pastora alemã e, por último a Shana, outra pastora. Um dia, ao colocar o carro na garagem, eu não a vi sair e ela escapuliu para a rua. Procuramos por todos os cantos durante várias semanas, mas nunca mais a achamos. Deve ter encontrado novos donos.
Por alguns anos decidimos não ter animais em casa, até que, em um domingo de sol, uma amiga presenteou a família com um gatinho amarelo. É que, um dia eu havia dito de brincadeira: “Quero um gatinho para me fazer companhia”. E ela levou a sério. Felizmente. Ele era uma gracinha. Veio em uma cesta forrada com um colchãozinho macio. Até roupinha para dormir ele tinha. Nos conquistou à primeira vista. Até então, minha experiência com os felinos era zero. Consequentemente, Ronron e eu tivemos de ir aos poucos nos conhecendo.
Como já disse, nunca me interessei por gatos. A gente cresce cantando a antiga cantiga de roda “Atirei um pau no gato” e fica influenciada pela agressividade em relação aos animais da família dos felídeos. Que crueldade atirar um pau no gato e lamentar porque ele não morreu... E a dona Chica, coitada, que berrou tanto que o gato deu... miau. Também tem o desenho infantil, onde Tom está sempre perseguindo o rato Jerry que sempre o faz de bobo. Pobre gato, nunca consegue caçar o rato. Além disso, as bruxas das estórias infantis sempre aparecem acompanhadas de um gato preto. Mas em contrapartida, existem as estórias de gatos interessantes e inteligentes como, por exemplo, o Gato de Botas, o Gato Felix, o Garfield. Todas essas histórias me faziam ter certa desconfiança dos gatos e o meu interesse em conhecê-los melhor ficava somente no nível das estórias, fotos e canções.
Agora sei que no antigo Egito os gatos eram venerados e considerados sagrados. Bast, a deusa da fertilidade e da felicidade, considerada benfeitora e protetora do homem era representada na forma de uma mulher com a cabeça de um gato. Em outras civilizações, os gatos também eram venerados, a exemplo da Pérsia antiga, onde havia a crença de que quando o gato era maltratado, corria-se o risco de estar maltratando um espírito amigo e, ao fazer isso, o homem estaria atingindo a si mesmo.
Isso explica para mim porque os gatos são indecifráveis. Eles são autênticos, não precisam bajular ninguém. Eles se bastam. São independentes. Asseados.
Silenciosos até no andar. Elegantes. Misteriosos, porque em torno deles giram muitas histórias. Ronron não foge a regra, sabe o que quer e sabe impor sua vontade. Quando quer aconchego vem de mansinho, se aconchega e vai ficando, ronronando baixinho. Sabe perfeitamente respeitar o espaço daqueles com quem convive, mas exige também a reciprocidade. Realmente, é um grande companheiro. Por isso não me arrependo de ter um dia falado “quero um gatinho para me fazer companhia”.


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